Por Sérgio Montenegro Filho A oposição que me desculpe, mas mover ação judicial contra a campanha antecipada da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, é apostar demais na falta de memória do eleitor brasileiro.

E querer que eles acreditem que não há qualquer intenção eleitoral por trás da iniciativa é confiar demais na ingenuidade do povo.

Não estou, de forma alguma, concordando com a exposição exagerada da figura da toda-poderosa ministra da Casa Civil por parte do presidente Lula.

Mas quem não lembra, por exemplo, da maciça presença de José Serra na mídia, poucos anos atrás, quando o então ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso era o presidenciável do PSDB?

Mais de um ano antes da eleição de 2002, Serra já tirava todo proveito possível das ações da sua pasta.

Algumas bem populares, como os medicamentos genéricos.

O ministro tucano percorreu o País de norte a sul, participando de inúmeros atos públicos e colhendo muitos dividendos políticos pelo trabalho “administrativo” realizado.

E só não levou mais cascudos dos adversários porque estes não conseguiam se articular para tanto.

O próprio FHC, ainda quando ministro da Fazenda de Itamar Franco, em 1993, avocava para si o título de “pai” do Plano Real.

Em cima desse “titulo”, fez sua propagandinha antecipada.

Cadê a memória dos partidos de oposição?

Por que, então, condenar o argumento de Lula de que Dilma está viajando pelo País porque é a gerente - e “mãe” - do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), responsável pela distribuição de gordas fatias de recursos para as obras que o presidente vem visitando com ela a tiracolo?

Nada mais natural, o argumento do Planalto, principalmente se levarmos em conta a nossa legislação eleitoral caduca e frouxa, que permite situações como essas, de ambos os lados.

O próprio Lula, em recente visita ao Recife - acompanhado de Dilma, claro - minimizou a ação judicial movida pelos adversários.

Afirmou que eles também teriam a chance de expor seus candidatos e que não iriam mantê-los numa redoma de vidro até o começo da campanha de 2010.

Com isso, admitiu - na maior naturalidade - que estava turbinando a pré-candidatura de Dilma.

O que se pode concluir disso tudo?

Primeiro que, aproveitando a brecha na lei, Lula está simplesmente fazendo o que seus adversários fizeram quando estavam no poder.

E eles, por sua vez, agem como se o presidente e sua candidata estivessem cometendo um ato inédito.

Não é. É tudo um grande teatro.

O recurso judicial movido pelo DEM e PSDB tem um lado absolutamente político: tentar mostrar que a oposição, embora esmagada pelo rolo-compressor governista montado pelo PT e seus aliados, ainda se mexe, respira, e tem pretensões de voltar ao poder.

Tem mais um detalhe: embora os opositores condenem a antecipação da campanha por parte de Dilma Rousseff, nenhum deles diz nada quando as pesquisas - feitas a mais de um ano da disputa - apontam a ampla liderança do seu candidato, José Serra.

Um governador investido no cargo.

Pelo contrário, todo mundo comemora o favoritismo do presidenciável tucano, que avaliam como um elemento agregador do bloco de oposição. É um discurso, no mínimo, contraditório.

Afinal, Dilma é candidata, mas Serra também é.