Do JC desta quarta A recifense Paula Ventura de Oliveira, 26 anos, ainda não tem condições psicológicas para dar um novo depoimento à polícia suíça.

Segundo a conselheira do Consulado Brasileiro em Zurique, Marisa Baransk, até o fim da tarde de ontem, o advogado de defesa não havia confirmado com as autoridades do país se a bacharela em direito poderia ser ouvida oficialmente.

A expectativa inicial era que hoje Paula sentasse com a equipe de investigações para ser ouvida novamente sobre o suposto incidente, a primeira vez desde que a Procuradoria-Geral de Zurique confirmou que a brasileira confessou ter mentido sobre o ataque neonazista que disse ter sofrido no último dia 9, na cidade de Dubendorf.

Após a agressão, ela teria abortado.

Ainda de acordo com a conselheira, até as 20h de ontem na Suíça, não havia previsão de quando o depoimento será realizado.

A reportagem do Jornal do Commercio tentou entrar em contato ontem com familiares de Paula.

Apenas o seu tio, Sílvio Oliveira, atendeu o telefone.

Em viagem ao Sertão do Estado, ele reforçou que o depoimento não estava confirmado para hoje e afirmou ainda que há alguns dias não entra em contato com o irmão (Paulo Oliveira) ou com a sobrinha.

Em sete dias, a recifense passou de vítima a acusada no caso.

Depois da repercussão internacional, com pronunciamentos até do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a polícia suíça começou a contestar diversos pontos da história contada por Paula.

Primeiro questionaram o aborto, alegando que Paula não estaria grávida na noite do ataque, e sugeriram que, na verdade, a pernambucana havia se mutilado.

Na quarta-feira (18), a Procuradoria-Geral de Zurique indiciou Paula e iniciou as investigações sobre a veracidade das acusações feitas por ela.

No dia seguinte, o órgão confirmou que ela teria confessado desde o dia 13, no hospital, que os cortes em sua pele foram feitos por ela mesma e que jamais esteve grávida.

A informação havia sido divulgada no dia anterior em reportagem da revista conservadora Die Weltwoche, ligada ao SVP (partido de direita cuja sigla foi escrita a estilete no corpo da pernambucana).

A publicação informou até mesmo onde a brasileira comprou a faca de cozinha com que teria se automutilado.

Ainda de acordo com a matéria, Paula teria forjado o ataque e o consequente aborto para receber uma indenização de até R$ 100 mil (50 mil francos suíços), como já ocorreu em casos semelhantes.

Em entrevista ao JC publicada no último sábado, o pai de Paula, Paulo Oliveira, classificou como “conversa fiada” as acusações de que sua filha tenha se mutilado em busca de dinheiro ou da permanência no país. “Ela não precisava disso para permanecer na Suíça.

Ela veio para cá contratada.

Quando o visto terminasse, ou seria renovado ou ela voltaria.

A própria empresa renovaria.

Minha filha não infringiu nenhuma lei suíça.

Nunca cometeu um delito de trânsito, quebrou um copo ou matou uma barata na Suíça.

Essa história da indenização é outra fantasia.

Isso nunca foi cogitado”, complementou.

Paula trabalha como coordenadora de vendas na filial em Zurique da empresa dinamarquesa de transporte marítimo Maersk, uma das maiores do mundo.