Por Luciano Siqueira Em sua recente passagem por Salgueiro e Recife, o presidente Lula se queixou do empresariado brasileiro a quem acusa de dispensar trabalhadores além da conta usando como pretexto a crise.
Segundo ele, se determinados setores industriais, por exemplo, vem recebendo apoio governamental não deveriam reduzir a força de trabalho empregada, ainda que amargando relativa redução de sua taxa de lucro. É preciso, entretanto, ir além do sentimento de frustração do presidente.
Pois o que aqui acontece é reflexo do fenômeno que assola a economia mundial a partir do seu epicentro situado nos EUA.
O desemprego não é mero efeito natural da crise.
Faz parte de toda uma engrenagem própria do sistema capitalista e que retorna sempre que nem sinal clínico intermitente em doente grave.
Há hoje duas faces da economia capitalista que se entrecruzam e guardam entre si relação contraditória – a economia produtiva, dita real; e a ciranda financeira, dita virtual.
Na economia produtiva o bloqueio da circulação do capital resulta de uma espécie de superprodução relativa de mercadorias – quando a produção excede em muito a capacidade de consumo da sociedade.
De modo simplificado esta é a essência de todas as crises cíclicas do sistema.
Na economia dita virtual, que expressa a enorme defasagem entre a produção real e os registros contábeis estratosféricos de capital fictício, o capital tem interrompido a sua circulação com a restrição abrupta do crédito e de outras modalidades de investimento financeiro.
As duas coisas acontecem simultaneamente hoje no mundo, puxadas pela débâcle financeira.
Nesse ambiente econômico restritivo, cai substancialmente a taxa média de lucro e o empresariado é levado a reduzir custos de todas as maneiras possíveis.
Começa dispensando seus empregados.
E é aí que o desemprego converte-se a um só tempo em conseqüência e causa.
Diminui a capacidade real (e não apenas a vontade subjetiva) de consumo dos trabalhadores; aprofunda o fosso entre a produção e consumo.
Daí que o governo precisa associar a garantia do emprego ao conjunto das medidas de socorro aos setores produtivos de nossa economia.
Não basta flexibilizar a cobrança de tributos e facilitar o crédito; é preciso exigir como contrapartida a permanência dos empregados em seus postos de trabalho.
Pois é óbvio que não se estimula o consumo e a produção num cenário de desemprego crescente.