Por Luiz Weis, do Blog Verbo Solto / Observatório da Imprensa Retrospectivamente, é fácil – quase tão fácil, é o caso de dizer, como abrir uma conta numerada num desses paraísos fiscais – condenar a imprensa brasileira por ter comprado pelo valor de face a versão do assessor parlamentar Paulo Oliveira sobre o que sucedeu a sua filha Paula, na noite de domingo, 8, numa estação de trem de um subúrbio de Zurique, na Suiça.
Claro que o manual foi ignorado.
Na blogosfera, na TV, nas rádios e nos jornais, todos pularam a página onde está o verbete “checar”.
Pularam também, o que é pior, a página onde estão os advérbios “alegadamente” e “supostamente”.
Ainda assim, devagar.
Primeiro, a versão paterna – com as fotos que ele tratou de distribuir da filha radiante, exibindo o que parece ser a sua gravidez – foi corroborada pelo seu namorado suiço, que por sua vez mandou as fotos das partes do corpo de Paula (barriga, coxas e pernas) marcadas, a estilete, com a sigla do partido suiço de extrema-direita SVP.
Segundo, a vítima – dos skinheads ou de si mesma, porém vítima sempre, como diria mais tarde o pai – tinha um perfil insuspeito: advogada, trabalhando na Suiça a convite de uma multi dinamarquesa do setor de transportes, com planos de casar e morar no país.
E nada, rigorosamente nada, na sua história de vida, pelo que se apurou junto à mãe, à madrasta e aos amigos, que fizesse acender uma luz amarela na cabeça de repórteres e editores.
Terceiro e no mínimo tão importante quanto, a versão era plausível por terem chegado onde chegaram a xenofobia e o neofascismo na Europa de hoje.
Dizem os italianos – em cujo país, por sinal, o ódio aos imigrantes o governo de direita de Silvio Berlusconi transformou em leis racistas – que “si non è vero è ben trovato”.
E a Suiça, com os seus chocolates e os seus queijos, as suas montanhas e as suas vaquinhas malhadas, não é nenhum cartão postal em matéria de preconceito contra os estrangeiros que fazem os “trabalhos de negro” que os nativos acham aquém demais deles.
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