Por Augusto Coutinho Li com preocupação a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à Revista Veja desta semana.

Em um país onde a política é cada vez mais desacreditada e os políticos encarados, muitas vezes, como simples agentes de corrupção, as declarações de um homem público como Jarbas Vasconcelos só fazem constatar o quanto a reforma política é crucial para a mudança de rumo na política brasileira.

Reforma política que Fernando Henrique teve oportunidade de fazer e não fez e que Lula prometeu tirar do papel, por duas vezes, e ainda não tirou, apesar dos altos índices de aprovação.

O problema de uma reforma política ampla no Brasil é de essência.

O atual sistema é um dos motores da corrupção e para quem se beneficia dela, reforma política é um verdadeiro pesadelo.

O senador Jarbas Vasconcelos expõe isto de forma clara: “os níveis dos debates (no senado) é inversamente proporcional à preocupação com benesses”.

Isto é fato.

A frustração de Jarbas é a de muitos: como fazer política, a legítima, em um ambiente no qual a doença da troca de favores é vista como “normal”, “do jogo” ?

Há muito, executivos e legislativos alimentam o varejo das negociações por um motivo simples: pode até ser ruim para o país, mas é bom para os dois lados. É bom para o executivo porque forma sua base cooptando os interesses individuais.

Em um sistema com partidos fortalecidos, reais, troca de favores se enfraqueceriam em nome das causas maiores. É mais difícil cooptar um partido inteiro. É muito fácil “comprar” apoio um a um.

Jarbas expõe a fratura: o resultado desta relação é que nas últimas décadas tem se configurado o crescente viés governista no Congresso, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras municipais.

Ninguém que ficar longe das benesses, do grande cofre.

Sem ele, é muito difícil um político “atender” suas bases.

Em Pernambuco, temos exemplos recentes. É só observar quantos antigos aliados do governo passado continuam aliados do governo.

O atual.

Serão sempre governistas.

Porque querem sempre estar no poder.

Só uma reforma política profunda, reestruturadora, pode quebrar os diversos vícios que, de exceção, viraram regra no atual sistema.

Além das tantas outras verdades inconvenientes que a entrevista de Jarbas tem coragem de expor, para mim, a reforma política é a mais emblemática.

Infelizmente, ele tem sido quase um solitário nesta luta.

A política brasileira não pode abrir mão de nomes como Jarbas Vasconcelos.

Homens públicos que são exemplos para uma nova geração de políticos que, como eu, têm um ideal na vida pública.

Mas para que a democracia brasileira se fortaleça a partir de nomes como o do ex-governador, é preciso encarar que a reforma política precisa sair dos discursos e virar realidade.

Deputado Augusto Coutinho(DEM) Líder da Oposição na Assembléia Legislativa