Editorial do Jornal do Commercio desta sexta-feira A advogada recifense Paula Oliveira acaba de descobrir, de forma trágica, que a criminalidade é um fenômeno globalizado.

Transformou-se em pesadelo seu sonho de viver longe de assaltos, sequestros, homicídios, agressões.

Nesta semana, ela foi espancada e ferida a estilete por três skinheads em Dubendorf, na Suíça.

Os facínoras tinham as cabeças raspadas, vestiam roupas pretas e um deles levava a suástica tatuada na cabeça.

O crime e seus agentes representam o que há de pior em violência neste século, remetendo-nos à mesma agressão e personagens da SS, uma organização paramilitar ligada ao partido nazista alemão.

A identificação dos bandidos suíços com a sigla SVP, Partido do Povo Suíço, de ultradireita, gravada a estilete no corpo da advogada, faz deles um grupo paramilitar organizado em torno de um projeto político.

O local, Dubendorf, é próximo de Zurique, onde uma pesquisa mostrou, não faz muito tempo, que um terço dos suíços eram xenófobos, isto é, tinham horror a estrangeiros.

De lá, da Suíça, outrora modelo de civilização e de não violência, chegam também informações de organizações de direitos humanos constatando o aumento da criminalidade relacionada com o racismo e ao crescimento do Partido do Povo Suíço.

Um dos cartazes de propaganda do partido promete segurança e mostra uma ovelha branca chutando uma ovelha negra para fora do país.

Noutro cartaz, o SVP diz que o aumento da criminalidade é provocado pela imigração.

Em 2007 o partido conseguiu aprovar uma lei de naturalização que submete a aprovação da nacionalidade suíça a uma votação secreta na comunidade onde vive o estrangeiro.

A dramática condição de estrangeiro na Suíça ou em qualquer outro país da Europa torna-se mais visível e assustadora com a tragédia pessoal da advogada recifense e acende o sinal vermelho para todos que veem lá fora o que há de bom e em falta no Brasil, como trabalho, segurança, serviços públicos.

O caso brasileiro não é único, mas são daqui os grupos que foram trancafiados em aeroportos e expulsos de volta ao Brasil.

Isso aconteceu há poucos dias na Espanha, recordista nesse tratamento humilhante.

Além de mostrar que lá fora as coisas estão igualmente piores, a violência dos jovens neonazistas revela uma grave doença social para a qual deve nossa juventude ser imunizada.

Explicando-lhe que esses skinheads são frutos do que há de pior na história mais recente da humanidade, as SS nazistas, nascidas da tropa de choque de Hitler quando ele dava os primeiros passos na direção da Segunda Guerra Mundial.

As SS começaram com alguns poucos membros e chegaram a um milhão de homens durante a guerra.

A presença dessa ameaça na Suíça é alarmante, porque associada a um movimento xenófobo que se espalha pela Europa, com mobilizações de trabalhadores nativos contra a mão de obra de outros países.

Da passeata para a violência, o espaço fica cada vez mais curto e essa relação está explícita no caso de Paula Oliveira.

Ela trabalha em uma empresa dinamarquesa de transporte marítimo, em Zurique, e estava ao telefone falando com a mãe, quando descia do trem em Dubendorf.

Tudo indica que o sinal para a agressão foi o fato de ela estar falando português.

Falar outro idioma que não o francês, o alemão ou o italiano torna-se um risco na Suíça, assim como ter a pele escura – ovelha negra – ou ser muçulmano.

Quando alcançou a maior votação nas eleições de 2007, o SVP propôs a expulsão dos estrangeiros.

Paula Oliveira recebeu tratamento no Hospital Universitário de Zurique mas vai continuar sob acompanhamento, por causa do risco de ter sido contaminada pelos ferimentos.

Do Brasil, vamos ficar acompanhando para confirmar ou rejeitar alguns mitos.

Como o de que a Suíça é um símbolo de civilização, onde tudo funciona à perfeição, como seus famosos relógios.

Esperamos que o sistema policial e a Justiça tenham a precisão suíça do passado, e que os bandidos sejam presos e condenados como assassinos.

Pois eles mataram duas crianças que estavam no ventre de Paula.