Deu no Blog de Noblat A advogada Paula Oliveira, 26 anos de idade, funcionária em Zurique, na Suiça, do maior conglomerado econômico da Dinamarca, A P Moeller/Maersk, líder mundial em transporte marítimo de contêineres, foi atacada na noite do último domingo por três skinhead neonazistas.
Um deles exibia uma suástica tatuada atrás da cabeça.
Dois dos agressores a imobilizaram depois de espancá-la e deixá-la seminua.
O terceiro sacou de um estilete e passou a retalhar várias partes do seu corpo - braços, pernas, barriga e costas.
O ato final da sessão de tortura foi entalhar nas duas coxas de Paula a sigla SVP - Scheiz Volks Partei.
Em português, Partido Popular da Suíça ou Partido do Povo Suíço.
Paula estava grávida de gêmeos há três meses.
Eram duas meninas.
A agressão a fez abortar.
Há pouco, ela estava em um hospital de Zurique.
Os médicos ainda não haviam decidido se deveriam esperar que o organismo expelisse a placenta espontâneamente ou se deveriam submeter Paula a uma curetagem.
Ela estava pronta para se casar nos próximos meses com Marco Trepp, economista suíço e pai de suas filhas. - O que fizeram com minha filha parece uma história de filme de terror - disse-me o advogado Paulo Oliveira, secretário parlamentar do deputado federal Roberto Magalhães (DEM-PE), ex-governador de Pernambuco.
Oliveira embarcou, ontem, às pressas para Zurique.
Ele foi acordado por um telefonema da filha às 4h da segunda-feira.
Paula lhe contou o que acontecera.
Ela mora em um apartamento de dois quartos em Dubendorf, cidade a menos de três quilômetros de distância de Zurique.
Voltou para casa de trem como costuma fazer.
Ao sair da estação, foi abordada por três homens brancos, carecas e vestidos de preto.
Paula falava pelo celular com a mãe no Recife.
Há poucos prédios nas vizinhanças da estação.
E há uma área cheia de arbustos.
Foi para lá que os três homens conduziram Paula.
Naquele dia, os suiços tinham votado em plebicisto nacional para decidir se mantinham ou não o acordo de livre circulação pelo país de trabalhadores da União Européia.
O acordo permitiu em 2002 que 200 mil cidadãos europeus trabalhassem na Suiça.
Por 59,6% dos votos, o acordo foi confirmado.
Dos 26 cantões suiços, apenas quatro votaram contra o acordo.
O Scheiz Volks Partei é o maior partido político da Suiça, também conhecido ali como União Democrática de Centro. É o que governa o país.
Embora oficialmente tenha proposto a confirmação do acordo, o partido está dividido quanto à questão.
A ministra da Justiça, por exemplo, foi a favor.
O ministro da Defesa, contra.
Nas ruas de Zurique ainda restam gigantescos cartazes onde aparece desenhado o mapa do país, como se fosse um pedaço de carne, sendo bicado por vários corvos, identificados com os imigrantes. “Passe livre para todos?
Não!”, está escrito nos cartazes.
O que denunciou a condição de imigrante de Paula foi o português falado por ela com a mãe ao telefone.
Os três agressores não queriam molestá-la sexualmente.
Nem mesmo roubá-la.
A intenção deles era apenas fazê-la sofrer.
A sessão de tortura durou cerca de 10 minutos.
Uma vez terminada, Paula correu para um banheiro da estação e de lá telefonou para o namorado pedindo socorro.
Ele chegou acompanhado de uma ambulância e do detetive da polícia de Zurique Hug Andreass.
Paula foi levada para um hospital em Zurique.
Enquanto era tratada pelos médicos, ouviu mais de uma vez do detetive: - Se a senhora estiver mentindo será processada.
Na manhã de hoje, a consul-geral do Brasil em Zurique, a embaixadora Vitória Clever, conversou com o pai de Paula e telefonou para a polícia pedindo informações sobre o caso.
Disseram-lhe que o pedido deveria ser feito por escrito.
Na mesma hora, a embaixadora mandou o pedido por escrito.
Recebeu uma resposta escrita e assinada pelo detetite Andreass.
Ele sugeriu que ela procurrasse informações com a própria vítima da agressão.
A embaixadora, agora, se reportará ao chefe da polícia de Zurique.
Paula voltará ao Brasil na próxima semana.