Por Carol Carvalho e Felipe Lima Os que não têm a quem recorrer do outro lado do muro, caminham sem rumo.

Afastado da família, sem amigos, recebem a liberdade e deixam o presídio em caminhada quilômetrica por não ter, em absoluto, quem olhe por eles.

Os transgressores das regras do Estado veem somente no Estado uma saída para que possam, de novo, voltar a ser cidadãos.

E, enquanto decidem o futuro, os que detém o poder - seja econômico ou político -, em seus refrigerados escritórios, dão passos lentos na direção da ressocialização.

O estigma de ex-detento vai acompanhá-los onde forem.

A primeira parada é na Chefia de Apoio aos Egressos e Liberados (CAEL), parte da Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos.

Lá, segundo a gerente do órgão, Zuleide Lima de Oliveira, “é o local onde eles colocam os pés no chão”. “Chegam cheios de expectativas, mas é preciso prepará-los para os olhares atravessados”, alerta.

Adiante, a luta para se reerguer através da capacitação profissional e emprego parece perdida a tirar pela escassas oportunidades.

A CAEL mantém convênio com uma única empresa da iniciativa privada e mais 11 instituições que integram a esfera federal e estadual - entre elas os Correios e a Fundarpe.

Isto, enquanto ainda são reeducandos, com bom comportamento e trabalham para reduzir a pena.

Essas parcerias, de acordo com Zuleide de Oliveira, são responsáveis por empregar em média de 12 a 25 reeducandos por instituição - quando o universo prisional do Estado conta com mais de 18 mil detentos.

Somente a Brastex, indústria têxtil pernambucana sediada em Paulista, no Grande Recife, tem o compromisso de assinar a carteira depois do cumprimento da pena. À frente da fábrica, o empresário Antonio Claúdio Cysneiros Cavalcanti Júnior acredita que a iniciativa deve ser multiplicada.

Tanto que propôs ao Secretário Executivo de Justiça e Direitos Humanos, Rodrigo Pellegrino, a inclusão do trabalho com detentos no programa de segurança pública do Governo, o Pacto pela Vida, de forma que estimule grandes empresas a adotar a ideia, vindo, quem sabe, a contratar reeducandos.

Cavalcanti Júnior levou ainda a sugestão da criação de um selo padrão por parte do Governo, a ser afixado nos produtos e que os consumidores identificassem as empresas que ajudam na ressocialização de detentos.

Diante da obviedade de que a iniciativa poderia ser replicada e estimulada pelo Pacto pela Vida, não houve saída para os secretários de Justiça e Direitos Humanos, Rodrigo Pellegrino, e de Ressocialização Social, Humberto Viana, a não ser admitirem o sucesso da ação.

A experiência da Brastex, ainda que única no Estado, mostra como é possível, viável e rentável aproveitar a mão de obra carcerária em Pernambuco. “Vamos criar o selo, sim, e articular as instituições porque ela viabiliza o não reingresso da pessoa na criminalidade.

Já temos um trabalho pequeno desenvolvido com o egresso e liberado do sistema penitenciário, mas essa capacidade de potencializar é o que é fundamental.

Nós compramos a idéia, vamos ampliá-la e acho que teremos muitos resultados significativos nesse conjugado de forças entre o Estado e o empresariado de Pernambuco”, defendeu Pellegrino, entusiasmado logo após conversa com Cavalcanti Júnior. “O Pacto pela Vida não é um projeto fechado.

E agora estamos vendo mais ainda que ele precisa ser ajustado. É uma ideia levar isso para o Pacto.

Não quero atropelar outro secretário (no caso, Rodrigo Pellegrino).

Se ele levar lá ou trouxer para mim ótimo.

O Pacto tem que se abrir para novos ajustes.

O Estado não pode esperar a iniciativa privada, pois não vai alcançar a margem desejada.

Por que não cria um selo que indentifique as empresas que trabalham com a ressocilização?”, declara.

Viana, no entanto, argumenta que há obstáculos para a implementação de um programa como esses.

Um deles é a falta de conscientização do empresariado local de que há ganhos com a contratação de detentos.

Outro é o preconceito. “Colocar um preso, um bandido é muito difícil.

Essa lógica está montada em um equívoco imenso da sociedade.

Não estamos fazendo apologia.

O foco é que existe um percentual considerável de internos que, na minha opinião pessoal, seriam melhor para a sociedade que não estivessem dentro dos presídios.

São vários.

Sessenta por cento dos presos são provisórios, ou seja, não foram julgados ainda”, explica.

E alerta para o ciclo vicioso provocado pela manutenção de pessoas que cometeram crimes leves dentro da prisão. “O homem ou rapaz foi preso por uma briga de trânsito.

Cometeu um delito, tem que responder, infrigiu uma regra social.

Você coloca ele dentro de um presídio como é que ele vai ficar?

Nas situações dos presídios brasileiros hoje.

Ele vai conviver com a criminalidade e se tornar um potencial criminoso.

A partir do momento que se colocar alguém assim dentro do Aníbal Bruno porque não foi julgado, ele vai ter que entrar na lógica da cadeia.

A lógica não é a sua, não é a dela, não é a nossa.

Só compreende quem tá lá dentro.

Princípios, valores, que as pessoas aqui fora falam porque não faz isso, faz assim.

Isso é a lógica de quem está aqui fora.

E dentro dessa lógica acaba virando bandido.

Ou se associa ou fica contra.

Quando fica contra eles mesmos resolvem lá.

Acaba usuário de droga. É uma realidade, não vamos fugir dela”. “Mas não há dúvida de que um programa como esse vai reduzir a violência.

Gera emprego e renda.

Boa parte dos presidiários eram os fomentadores da família.

E agora sem ele?

A família vai gerar violência.

A reincidência no Brasil é de 80%.

Em Pernambuco está na faixa de 70%.

Gostaria de ter acesso ao projeto.

Gostaria que ele (Antonio Cláudio) me trouxesse.

Precisamos perceber quais são as vantagens para a empresa e para o Estado. É uma via de mão dupla.

Temos todo o interesse nisso”, conclui.

Agora é responsabilidade da gente, da imprensa, dos empresários e de toda a sociedade cobrar uma mobilização do governo.

E, claro, fazer a nossa parte nesse processo, derrubando os preconceitos, praticando o perdão e dando uma nova oportunidade a quem deseja resgatar o seu título de cidadão.

Quem achar que pode contribuir, seja com sugestões ou críticas, o Blog de Jamildo se coloca à disposição para a troca de ideias.

Os que quiserem ir além, vai o telefone da CAEL (3183.3175) e da Brastex (3438.5511).

Leia os outros posts da reportagem especial: Presídios procuram empresários solidários.

Recompensa, um mundo melhor Se a gente acreditar nestas pessoas, elas largam o mundo do crime Emprego faz presidiária esquecer vida de barata na prisão, mas não a verve.

Vocês estão fazendo o que?

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