Por Carol Carvalho Da humilhação e descrença, Eliseu Primo da Silva, de 31 anos, viu emergir na oportunidade de emprego os sonhos e a esperança de uma vida digna.

Condenado a sete anos de prisão por assalto, ele cumpre hoje regime aberto - precisa se apresentar uma vez ao mês na Chefia de Apoio a Egressos e Liberados (CAEL) - e é um dos 36 reeducandos que trabalha na Brastex, indústria têxtil pernambucana situada em Paulista, no Grande Recife.

Sentiu a vida desmoronar quando a mãe, aos prantos, assistiu ao momento em que policiais o colocaram dentro do camburão e levaram-no preso.

Hoje, graças ao trabalho, faz planos de retomar os estudos e ter novamente a carteira de trabalho assinada.

Eliseu diz ter levado uma rasteira do destino e se considera um injustiçado.

Faz queixas sobre o tempo que passou preso em regime fechado - argumenta que foi além do que deveria por conta da morosidade da justiça - reclama do não recebimento de salário enquanto prestou serviços na enfermaria do Presídio de Igarassu, no Grande Recife, e principalmente sobre o motivo da prisão: ele jura inocência, “apesar de ninguém acreditar” e diz que vai lutar para que um dia a Justiça reconheça que errou.

Em um sábado chuvoso, 2 de junho de 2006, Eliseu diz que voltava para casa onde morava com a mãe, em Rio Doce, na cidade de Olinda, quando um dos vizinhos o convidou para tomar uma cerveja. “Estava um frio grande e aceitei.

Sabia da fama desse colega, ele tinha matado uma pessoa lá na minha rua e vendia droga também.

Tem todo tipo de gente por lá e eu conhecia todo mundo.

Entrei na casa dele e ficamos bebendo na garagem.

Vi a polícia de longe, mas nem me mexi.

Deram logo uma tapa na minha cara e me levaram junto com ele para a delegacia”, conta o reeducando.

O momento foi um dos mais vergonhosos da sua vida, lembra. “Eu nem acreditava que estava sendo preso.

Minha mãe chorava demais, viu, era uma dor muito grande ver sua mãe chorando ali.

Eu, depois de velho, tinha 29 anos, dar uma decepção daquela.

Minha família nem acreditou.

Não era isso que eu queria para mim, nem a minha família”.

Ao chegar na delegacia, ele foi levado para interrogatório em sala diferente do companheiro.

Disse ter sido pressionado a confessar o assalto a uma senhora, que teria ido até a delegacia para reconhecê-los, mas se manteve irredutível. “Falaram que uma mulher estava denunciando eu e esse colega, só que eu nunca andava com ele.

Ficavam jogando um contra o outro, me diziam que ele tinha dito que eu assaltei, só que eu não fiz nada”, afirmou.

Da delegacia, Eliseu seguiu para o Cotel, onde ficou preso por um mês.

Nas palavras dele, foi condenado por assaltar a bolsa de uma senhora, junto com o vizinho, e assim encaminhado ao Presídio de Igarassu, local onde permaneceu recluso por um ano e quatro meses.

De lá, seguiu para a Penitenciária Agro-Industrial São João (PAISJ), em Itamaracá, Litoral Norte de Pernambuco, e cumpriu mais um mês, até conquistar o regime aberto.

Permaneceu pouco mais de dois anos e meio desempregado, até decidir se inscrever no programa de ressocialização da CAEL. “O povo diz que quando é preso porque rouba é ruim de arrumar emprego, num é?

E eu sempre gostei de trabalhar.

Ai me diziam que a CAEL dá oportunidade, só que eu não dava a mínima, não acreditava porque é feito o balcão de emprego na cidade, tanta gente se inscreve e você espera, espera. É muito desempregado por ai”, lembra.

Ele temia ainda a discriminação. “As pesssoas que te conhecem passam a olhar com outros olhos quando sabem que você é presidiário.

Eu digo na rua, meus próprios colegas, vejo nos olhos deles que me enxergam de outra maneira e isso me deixa muito triste”.

Eliseu deposita no trabalho a confiança de que é possível dar a volta por cima.

Foi chamado para integrar o quadro de reeducandos da Brastex, onde presta serviços gerais há quatro meses.

Lá, passou a se espelhar no exemplo dos que, assim como ele, foram condenados, mas tiveram uma segunda chance.

Antes de ser preso, ele concluiu o Ensino Médio e realizou curso técnico de enfermagem.

Apesar das mágoas que carrega consigo, o sonho de Eliseu é fazer uma reciclagem no curso e ter a carteira assinada. “Eu gosto de cuidar das pessoas.

Na enfermaria, via tanta gente abandonada, sofrendo e eu ficava com muita pena.

Gostaria de poder ajudar”, desabafa.

Da prisão ao trabalho, Eliseu hoje faz o caminho do sofrimento à redenção.

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