Por Carol Carvalho Ednaldo Gomes da Silva assumiu, perante o juiz, a autoria de seis homicídios.
Teria revelado, informalmente aos colegas de trabalho, que praticou o triplo desse número, e foi capaz de tirar a vida de 18 pessoas em pouco mais de doze meses.
Hoje, de volta à sociedade após 22 anos cumprindo pena em três presídios diferentes, é um homem livre de pendências judiciais, trabalhador de carteira recém assinada - mesmo estando prestes a completar 58 anos - e tido como um dos melhores funcionários da Brastex, na opinião dos diretores da indústria têxtil pernambucana, sediada no município de Paulista, no Grande Recife.
A história de “Seu Ed”, como é conhecido dentro empresa, desconstroi os argumentos até dos mais incrédulos na capacidade de recuperação do ser humano.
Quando tinha 34 anos, ele diz ter sido tomado por um sentimento que denomina de “revolta”.
De fala mansa, mesmo tratando de assunto delicado, Ednaldo conta que tudo começou quando chegou no local onde morava e deparou-se com os móveis revirados. “Foram lá em casa, arrombaram, levaram as minhas coisas, o leite da menina, o bujão de gás, ai eu me revoltei”, disse.
Os vizinhos, segundo Ednaldo, relataram que um dos companheiros dele praticou a ação. “O primeiro crime foi quando o rapaz arrombou minha casa, ai matei ele.
Os outros, não lembro mais não.
Eu trabalhava em firmas, mas elas botavam a gente para fora.
Eu desempregado, com medo das minhas crianças passarem fome.
Foi um prejuízo para mim, um inferno”, admite, justificando que deu o primeiro disparo motivado por vingança e teria seguido adiante por necessidade, vindo depois a se arrepender. “Eu comecei no crime fraco, que é matar esses delinquentes que praticavam iniquidades, sabe, roubavam do pobre.
Não era pago antes, ai comecei a receber dinheiro para o crime de fora.
Lá pro lado do Rio Grande do Norte, fui pago para matar alguém lá fora, e aconteceu de não ter matado, mas os meus camaradas que andavam comigo mataram, ai já que nós estávamos juntos, foi um crime só”.
Ednaldo da Silva foi preso em Pernambuco no ano de 1986, julgado no Rio Grande do Norte a 60 anos de cadeia e retornou ao Estado direto para o presídio Professor Aníbal Bruno, na Zona Oeste do Recife.
Lá, ficou por quatro anos, depois foi transferido para a Penintenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, Litoral Norte do Estado, e em seguida cumpriu os últimos 12 anos de sentença - reduzida a 22 anos por conta do trabalho prestado - na Penitenciária Agro-industrial São João (PAISJ), também em Itamaracá.
Entre os percalços na prisão, Ednaldo revela que escapou da morte por duas vezes: foi atingido por um tiro de pistola na perna direita, durante tiroteio entre policiais e criminosos, e em outro momento, jurado de morte por um dos detentos, que disse ter sido pago para executá-lo mas que não chegou a receber o dinheiro.
Há três anos, ele começou a frequentar a igreja Assembleia de Deus, ainda dentro do presídio, e garante que a religião é uma das responsáveis por sua “salvação” e “mudança de espírito”. “Como eu me arrependo, olhe, me arrependo tanto que chego na igreja, tenho muita vontade de falar nisso, porque Jesus me salvou dentro do calabouço.
Quero que a minha história sirva de exemplo, preciso mostrar que as pessoas podem se regenerar”.
Do outro lado do muro, Ednaldo deixou duas filhas, na época em que foi preso, uma com 6 e outra com 5 anos, e a esposa doente, necessitada de cuidado constante já que foi diagnosticada como epiléptica desde criança.
A solução encontrada por Ednaldo para “não perder a cabeça” e tentar sustentar a família mesmo dentro do presídio foi mergulhar no trabalho. “Eu comecei a trabalhar, tava com dois anos lá, enquanto uma tia que ajudava a minha esposa.
Tentei trabalhar antes quando cheguei, mas não queriam não, o diretor dizia que eu era muito perigoso.
Lá na unidade trabalhei de cozinheiro e padeiro.
Também fiquei empregado na Defensoria Pública, na Casa da Cidadania, eu fazia de tudo que me pedissem, só queria trabalhar.
Depois, quando estava na PAISJ, encontrei a vaga na Brastex, onde comecei de cozinheiro e depois fui para o chão de fábrica”.
Na última segunda-feira (2), ele tornou-se oficialmente funcionário da Brastex, em cerimônia na Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos, diante do secretário Rodrigo Pellegrino e de um dos diretores da empresa, Luiz Martinho.
Independente do que fez no passado, Ednaldo da Silva agarrou a oportunidade oferecida enquanto reeducando, dedicou cinco anos à empresa e teve os direitos de trabalhador reconhecidos com a assinatura da carteira.
Para o futuro, o novo contratado deseja no mínimo mais uma década de suor na fábrica até que chegue o dia da aposentadoria, seja cortando ou dobrando os panos de limpezas produzidos no local, operando as máquinas, descarregando caminhões, ou simplesmente sendo útil na função que desempenha hoje - o “faz tudo”.
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