Por Sérgio Montenegro Filho O resultado da eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal mostrou que o PMDB continua bem vivo, após 42 anos de existência.

Do antigo MDB – criado em 1966, com a anuência da ditadura militar, com o estrito objetivo de abrigar toda a oposição ao regime – para o PMDB de hoje, muita coisa mudou.

Mas o poder de barganha dos seus caciques permanece forte, embora com direcionamentos diferentes e interesses bastante questionáveis. É preciso se ter em mente que os cargos em questão – as duas presidências – têm importância fundamental no funcionamento do sistema legislativo e mesmo para o governo do País, uma vez que são eles quem comandam as pautas de votação dos projetos e podem articulá-las de acordo com seus interesses.

Em resumo: cabe a eles definir o que é ou não prioridade nas votações do Congresso Nacional.

O PMDB atual não é, nem de longe, aquele partido que resistiu bravamente à ditadura militar, abrigando sob o guarda-chuva da legalidade democratas, moderados, autênticos, comunistas e até futuros petistas.

Hoje, os peemedebistas – com raras exceções – são praticantes da tese do é dando que se recebe, criada por um deles.

E é nas mãos desse pessoal que está, a partir de agora, o controle do Poder Legislativo.

Não se trata apenas da elaboração e votação de leis, mas também uma significativa interferência política, que vai desaguar, inevitavelmente, na escolha do sucessor de Lula em 2010.

Embora jamais tenha elegido um presidente da República, o PMDB não sai da sombra do poder desde a escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, em 1985.

Com a morte prematura de Tancredo, o partido assumiu a Presidência da República com José Sarney.

Em 1989, participou do governo Collor, e em seguida, do de Itamar Franco.

A partir de 1994, apoiou os dois governos FHC, o que lhe rendeu régias benesses e inúmeros cargos-chave no poder.

Em 2002, embora tenham se colocado no palanque de José Serra (PSDB), após a vitória de Lula os peemedebistas foram se chegando aos pouquinhos.

Logo, logo, estavam sob as asas do governo petista, do qual, hoje, são aliados de primeira linha.

Outro detalhe a ser observado é quem está no cargo.

No Senado, o ex-presidente da República, José Sarney, uma raposa nas articulações políticas, que no passado foi duramente atacado por Lula, mas hoje é um dos seus interlocutores mais atuantes no Parlamento.

Já a Câmara está nas mãos do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, um paulista nato, lulista fiel e adepto da regra de que concessões sempre trazem dividendos, quer sejam imediatos ou futuros.

O Planalto, por sua vez, se mostrou disposto a bancar o preço das duas escolhas.

Desde que iniciou seu segundo mandato, Lula vem se desdobrando em afagos ao PMDB, mas agora deixou clara a ligação.

No Senado, optou pelo apoio a um peemedebista em vez do petista Tião Viana, candidato derrotado por Sarney.

Na Câmara foi mais fácil.

Temer era, de longe, o preferido do presidente.

Com o PMDB dando as cartas no Parlamento, o quadro para 2010 fica bem mais claro.

O partido deve mesmo fechar com o PT e terá carta branca para indicar o vice do candidato de Lula.

Sem falar no poder de fogo reforçado nas eleições dos Estados.

Quanto ao pequenino grupo de rebeldes peemedebistas, comandado por Jarbas Vasconcelos, que insiste em fazer oposição, se quiser mesmo apoiar a candidatura de José Serra, vai terminar tendo que procurar abrigo em outra casa.