Por Carol Carvalho e Felipe Lima Até quem cometeu o pior dos crimes tem oportunidade de trabalhar na Brastex.
Desde 2000, essa indústria pernambucana do setor têxtil assinou a carteira de trabalho de 14 ex-detentos, sendo destes quatro homicidas.
E se depender do atual diretor da empresa, esse número só aumentará.
Para Antonio Cláudio Cysneiros Cavalcanti Júnior, os que carregam o peso de ter tirado a vida de outro ser humano são os que mais precisam de uma nova oportunidade de resgatar sua cidadania.
Nesta segunda-feira (02) foi a vez de Edinaldo Gomes da Silva, 57 anos, condenado a 60 anos de prisão por homicídio e solto após ter cumprido 22.
Agora ele é oficialmente um funcionário da Brastex.
A empresa é conveniada à Chefia de Apoio a Egressos e Liberados (CAEL), parte integrante da Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, responsável por tentar ressocializar os detentos. À frente da empresa há um ano e quatro meses, Cavalcanti Júnior decidiu manter a política do antigo dono de receber reeducandos - presidiários que fazem de sua força de trabalho a ferramenta para se reinserir na sociedade - e contratá-los com todos os direitos trabalhistas quando o juiz concede o alvará de soltura.
Atualmente, a Brastex possui 53 reeducandos em seu quadro de funcionários.
Dezessete trabalham dentro da Colônia Penal Feminina do Recife e o restante nas instalações da fábrica, na cidade de Paulista, no Grande Recife. “Eu prefiro trabalhar com o reeducando homicida.
Porque a pior coisa que alguém pode fazer é tirar a vida de outra.
Essa pessoa está lá embaixo.
Então eu quero dar oportunidade para quem está realmente precisando. É a participação que eu acho que todo o empresário tem que dar.
Não só reclamar do governo, seja federal, estadual ou municipal, mas também fazer alguma coisa.
Se a pessoa foi julgada, condenada e pagou sua pena, também tem que ter uma chance.
Eu quero dar uma oportunidade a esse pessoal.
Nunca tive problemas com nenhum deles.
E na minha fábrica não existe discriminação por cor, credo ou posição social.
Eu, por exemplo, como no mesmo refeitório, a comida da mesma panela e utilizando os mesmos talheres e pratos que eles”, resume.
A Brastex é uma empresa como outra qualquer: busca o lucro, possui planos de expansão, prospecta novos clientes e prepara o lançamento de novos produtos.
Ano passado, quando oito ex-presidiários foram contratados, o faturamento da empresa foi de R$ 10 milhões.
Para 2009, o objetivo é dobrar esse valor e tornar duas vezes maior também a capacidade de produção da unidade, que é de 1 milhão de peças de tecidos por mês. “Isso será obtido com o aumento no número de funcionários e a implementação de um terceiro turno.
Meu desejo é que os reeducandos se tornem um dia 40% do total de pessoas que trabalham na empresa”, explica Cavalcanti Júnior.
Por lei, a Brastex não pode assinar a carteira dos detentos que ainda cumprem pena, sendo assim, economiza aproximadamente R$ 318 mil por ano, já que não precisa arcar com os encargos trabalhistas.
Cavalcanti Júnior, no entanto, não abre mão do “seu compromisso moral” de contratar os reeducandos quando libertos. “Minha satisfação não é só econômica.
Se fosse isso, eu simplesmente afastaria a pessoa quando ela fosse solta e contrataria outro reeducando.
Admito que a economia é significativa, mas meu objetivo é participar da diminuição da criminalidade no Estado”.
Cavalcanti Júnior acredita que pagar um salário a um ex-presidiário para que ele possa sustentar sua mulher e filhos é um meio eficaz de afastá-lo do mundo do crime.
Isso reflete diretamente na segurança pública, comenta.
Para tanto, ele entregou na última semana, ao Secretário Executivo de Justiça e Direitos Humanos, Rodrigo Pellegrino de Azevedo, um projeto que sugere ao Governo do Estado, através do Pacto pela Vida, estimular a participação de grandes empresas que atuam em Pernambuco em programas semelhantes ao da Brastex.
A partir de hoje, os leitores atentos do Blog de Jamildo poderão conferir posts diários sobre o tema.
Vamos dar detalhes de como funciona a empresa, o que seus clientes acham dessa iniciativa e as histórias de vida dos reeducandos e dos funcionários ex-presidiários, como a de Edinaldo Gomes da Silva.
O Blog correrá atrás também do Governo, falará sobre o trabalho que já é desenvolvido nos presídios do Estado e mostrará ainda o que os especialistas e a sociedade civil pensam sobre o assunto.
Não percam por esperar mais informações, vídeos, áudios de entrevistas e galerias de fotos.
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