Por Ana Lúcia Andrade, de Política / JC O ex-senador José Jorge construiu uma trajetória invejável na vida pública: deputado, senador, secretário de Estado, candidato a vice-presidente da República e agora ministro do TCU.

Muitos atribuem à sorte sua passagem por tudo isso. “Se fosse, ganharia na sena.

E olhe que jogo toda semana e fui professor de probabilidade”, brinca.

Contando com a sorte, mérito e muito bom-humor, José Jorge chega a uma das funções mais desejadas por políticos que encerram a carreira.

Promete atuar com rigor e revela-se à vontade na função de julgar porque nunca enfrentou um processo na vida. “Nunca gastei com advogado.

O que em política é muito difícil de acontecer”, diz.

ATUAÇÃO NO TCU “Ainda não tenho planos porque estive até pouco tempo dedicado apenas à campanha.

Mas me acho, de certa forma, habilitado pela experiência de vida que tenho.

Já passei por muitos lugares.

Tive uma formação acadêmica relativamente sólida e sou um homem mais de números do que de letras.

Tenho mais dificuldades de fazer o discurso de posse do que de examinar os processos (risos).

O grande tema que se coloca é o de como é que se melhora o processo de execução de obras e serviços pelo governo federal, e por aqueles que recebem verbas federais, sem prejudicar o andamento delas?

Porque se se paralisa muito as obras gera-se um prejuízo muito grande. É preciso interferir mas, ao mesmo tempo, assegurar que elas sejam feitas num custo mínimo.

Um exemplo típico, que conheci de perto quando fui candidato a vice-presidente (na chapa de Geraldo Alckmin em 2006) é o aeroporto de Vitória (ES).

Por problemas de licitação ele está há cinco anos paralisado.

A partir da posse é que vou examinar esse e outros processos.” A EQUIPE “A equipe é praticamente toda do próprio tribunal.

A gente pode escolher entes do TCU.

Como vou assumir o gabinete do ex-ministro Guilherme Palmeira, devo também assumir sua equipe.

Uma ou duas pessoas é que devo levar para minha assessoria pessoal.” INDICAÇÃO POLÍTICA “Há o componente político, sim.

O fato de a escolha ser feita ou pelo Executivo ou pelo Legislativo não deixa de haver um componente político.

Isso não se pode negar.

Mas não acredito que comprometa a atuação dos ministros.

Uma coisa é a escolha (do ministro), mas quando você assume um cargo como esse não pode mais ter filiação partidária, deixa de fazer política partidária.

E embora as ligações políticas permaneçam, você termina tendo ligação com todo mundo.

O meu caso por exemplo: tenho 24 anos no Congresso e terminei fazendo ligação com todos.

Tenho mais com os do meu partido, claro.

Mas a ideia é que você exerça a função com isenção, tanto que você usa uma toga de juiz e aplica alguns tipos de penalidade.

Agora, as pessoas sempre podem recorrer ao Judiciário contra qualquer decisão, inclusive do próprio Judiciário.

Mas acho que há um certo equilíbrio, porque quando se pune, tem que se dar a capacidade do punido de recorrer a outras instâncias. no caso da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) isso não existe, ela pode punir e o cidadão não tem a a quem recorrer.” CONCURSO PÚBLICO “Não sou a favor de concurso para os ministros.

Já existe para toda a equipe técnica.

Assim como no Judiciário, onde a cúpula é indicação política, acho que o TCU deve seguir a mesma linha.

Exatamente para ter o equilíbrio, porque os ministros dão pareceres em cima de auditorias técnicas.

Então, o fato de o ministro ser fruto de uma indicação política, ele tem experiência mais ampla do que o cara que passa pelo concurso público, que pode ser até um recém-formado.

Pelo menos até agora, a indicação política não comprometeu em nada esse formato.” A CARREIRA “As pessoas têm mania de atribuir meu sucesso a esse negócio de sorte.

Você tem que ajudar a sorte.

Acho uma injustiça comigo.

Como é que se constrói uma trajetória?

Antes de qualquer coisa, tem que se ter uma formação básica.

Antes de ser homem público, eu estudei muito.

Fiz o curso secundário, estudei Economia, Engenharia, fiz mestrado, fui professor universitário, técnico, então passei até os meus 30 anos só estudando, ensinando e trabalhando em órgãos técnicos.

Isso me deu um suporte que muitos políticos não tiveram.

Segundo, é que fui um executivo que tive um relativo sucesso em todas as funções que ocupei.

Por que é que fui para deputado federal?

Porque fui secretário duas vezes – da Habitação e da Educação, nos governos Moura Cavalcanti (1979-1982) e Marco Maciel (1978–1982), e me sai bem.

Então, o então governador Marco Maciel defendeu que eu fosse ser candidato a federal, não fui eu quem quis, mas as circunstâncias que me levaram.

Me elegi deputado pela minha atuação no Executivo.

Já no Legislativo me elegi quatro vezes por conta da atuação e do trabalho.

Depois tive a oportunidade de ser senador e fui com uma diferença grande (para Humberto Costa).

Outra coisa, durante toda essa carreira eu não tive nenhum problema na Justiça, nada.

O que em política é muito difícil.

Fiz essa campanha de vice-presidente, que é nacional, e não teve nenhuma acusação contra mim.

Agora no TCU é a hora mesmo do cara falar mal, né? (risos), mas ninguém diz nada.” FICHA LIMPA “Nunca fui acusado de nada, não respondo a processo algum.

Nunca gastei um tostão com advogado.

Na única vez em que contratei um, porque estava me separando, como o desquite foi amigável o advogado não quis nem receber.

Não deu trabalho nenhum e ele não quis nem receber.

Isso vai facilitando mais.

O próprio senador que disputou comigo (Leomar Quintanilha, PMDB-GO) tinha problemas no Supremo.” A ELEIÇÃO “O que pesou (na vitória) primeiro, foi o meu trabalho no Senado, todos eles me conhecem.

Os que não foram meus colegas, como o senador do PSOL (José Nery-PA), eu conversei.

Sugeri que ele conversasse com a ex-senadora Heloisa Helena (hoje vereadora de Maceió), já que tivemos uma parceria na oposição ao Lula. É isso que vai te fortalecendo.

E eles dizem muito que sou bem humorado.

O que vocês dizem aqui que é sorte, lá eles dizem que é bom-humor.

O ministro Carlos Ayres (presidente do TSE), que é meu amigo, caminhamos muito juntos lá em Brasília, me dizia que achava que eu iria ganhar porque além de inteligente eu sou bem humorado. ‘É muito difícil ganhar para você’, disse ele.

Então essa é a ideia que eles tem lá.

Mas na verdade é um conjunto de força: tem que se ter a carreira, saber fazer a campanha, agora se é sorte…

Se fosse eu ganharia na sena (risos).

E eu jogo toda semana.

O meu primeiro emprego foi como professor de cálculo de probabilidade.” O FUTURO “Hoje em dia o moderno é o cara se aposentar e ficar esperando a morte chegar, mas eu quero é prolongar minha vida útil, principalmente pelo investimento que a sociedade fez em mim.

Em estudo, em trabalho, em confiança.

Ficar em Porto de Galinhas só tomando banho de mar é bom para mim, mas não para a sociedade.

Quando completar 70 anos, ainda não sei o que eu vou fazer.

Mas se tiver a oportunidade de exercer outra função vou exercer.

Acho que o homem público tem que se contentar com qualquer função que aparecer em sua vida. É uma questão de oportunidade.

Fui candidato a vice-presidente, nunca pensei em ser.

Tive, inclusive, que disputar no voto dentro do partido e ganhei por seis votos para José Agripino (RN).

Dessa vez ganhei por sete.

Outro dia brincava com minha mulher Socorro e dizia a ela que da próxima vez em que eu disputar vou ganhar por oito votos (risos).

Ela me disse que eu não devo disputar mais nada.”