Por Carlos Eduardo Santos, em cidades do JC Ameaçado diversas vezes por denunciar o crime organizado e grupos de extermínio na Zona da Mata pernambucana, o advogado e vice-presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), Manoel Bezerra de Mattos Neto, 40 anos, foi executado a tiros.

Uma morte anunciada.

O crime aconteceu na noite do último sábado, na Praia de Acaú, litoral paraibano.

Mattos, que atuava como assessor parlamentar do deputado federal Fernando Ferro (PT), estava na casa de um amigo quando, por volta das 22h30, dois homens fortemente armados invadiram a residência.

Mandaram todos se deitarem no chão.

Para o advogado, disseram que o procuravam e mandaram ele ficar de pé.

Com um tiro de espingarda calibre 12 no peito e outro disparo na cabeça mataram-no.

Os dois bandidos fugiram a pé.

Oito pessoas estavam na casa e presenciaram o crime.

Amigos e parentes da vítima afirmam que o homicídio ocorreu 20 dias depois de o advogado, ex-vereador de Itambé, onde morava, receber ameaças de um homem conhecido como soldado Flávio.

O policial já havia sido preso por causa de denúncias de Manoel Mattos.

A polícia já tem informações de que o responsável pelos disparos que mataram o advogado foi um homem identificado apenas como Zé Parafina.

O perito criminal Wilton Videlis, do Instituto de Medicina Legal (IML) de João Pessoa, para onde o corpo de Mattos foi levado, afirmou que o crime tem características de execução. “As informações iniciais são de que um dos bandidos estava com uma jaqueta do Exército.

Um deles deixou um boné cair.

Recolhemos para um possível futuro teste de DNA”, explicou.

Um detalhe chamou a atenção de amigos da vítima.

Na manhã do sábado, um cliente do ex-vereador morreu assassinado em Itambé.

A polícia ainda vai investigar se existe ligação entre os dois crimes.

A morte de Manoel Mattos foi sentida pelos moradores de Itambé e Pedras de Fogo, município da Paraíba que faz divisa com Pernambuco.

As duas cidades pararam para se despedir daquele que lutou contra o crime organizado na região.

O corpo do advogado chegou ao ginásio municipal de Itambé para o velório às 13h40, sob aplausos de milhares de pessoas.

O sepultamento aconteceu no fim da tarde, no Cemitério de Itambé.

Muito emocionadas, a esposa da vítima, a professora Alcione Almeida Lima, 42, e a filha mais nova do casal, Manuela Mattos, 13, não saíram de lado do caixão.

O advogado ainda tinha um filho de 15 anos e uma filha do primeiro casamento, que estava de férias na Argentina.

O secretário-executivo de Direitos Humanos, Rodrigo Pelegrino, esteve no enterro, representando o governador Eduardo Campos.

Além de Pelegrino, estiveram no sepultamento o presidente da seccional Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil, Jayme Asfora, o deputado Fernando Ferro, o comandante da PM, coronel José Lopes, o presidente estadual do PT, Jorge Perez, o articulador do Movimento Nacional de Direitos Humanos no Estado, Manoel Moraes, entre outros políticos e autoridades. “Esse assassinato é uma agressão à luta pelos direitos humanos no Estado”, desabafou Moraes.