Por Ana Lúcia Andrade e Ciro Carlos Rocha, de Política /JC politica@jc.com.br Na última parte da entrevista, Carlos Wilson fala de temas atuais.
Atento aos fatos do momento, como o da eleição do Congresso Nacional, revela sua preferência por Aldo Rebelo (PCdoB) para presidir a Câmara, e traça um cenário extremamente difícil para Dilma Roussef na empreitada de 2010. “Lula é Lula e Dilma é Dilma”.
Também atento ao início da gestão do prefeito João da Costa, revela-se satisfeito com a composição do governo e destaca a capacidade do prefeito de atender ao PT como um todo. “Ele atendeu a todas as tendências, mas são tendências…”, lembra.
Carlos Wilson revela que não enxerga no novo prefeito o perfil de “querer ser poder”. “Ele quer deixar uma marca.
Quer ser um novo Pelópidas da Silveira”.
JC – O senhor está acompanhando a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado?
Acredita que pode-se estar revivendo o episódio Severino Cavalcanti, a caminho de uma terceira via e, possivelmente, da derrota do governo?
CARLOS WILSON – Não.
Primeiro porque Ciro Nogueira (candidato do PP) não é Severino Cavalcanti. É um rapaz com menos de 40 anos que quer fazer o nome dele.
Acho até que se fosse eleito seria um bom presidente.
Ele quer se credenciar.
Escreveu um artigo na Folha de S.
Paulo, há três semanas, onde diz que quer ser presidente não por questão de projeto pessoal, ele acha que o presidente da Câmara tem que ser alguém independente.
A começar por não ir ao presidente da República para pedir emprego, fura- poço e etc.
Quer dizer, ele diz o que pretende ser (como presidente).
Acho que um cara que chega a ser presidente da Câmara precisa ser muito ruim de serviço para não aproveitar essa oportunidade.
JC – Ciro Nogueira é o seu candidato?
CARLOS WILSON – Não.
Meu candidato é o do PT.
Só que acho que o PT não fará o presidente da Câmara, terá que entrar num acordo.
O PT tem de começar a entender que Lula é Lula, PT é PT.
Lula vai continuar sendo Lula.
Nunca aparecerá um outro.
Nunca, nunca, nunca.
Até porque a burguesia não vai deixar.
Lula é um homem de tanta sorte, de tanta luta, é um predestinado, uma pessoa que aconteceu.
Então o PT, se vai fazer uma composição com o PMDB, tem que acertar com o PMDB.
Agora, entregar ao PMDB a Câmara e o Senado aí também…
Se entregar o Senado tem que existir uma disputa na Câmara.
Um candidato que eu acho excepcional, um dos melhores parlamentares do Brasil, chama-se Aldo Rebelo. É sério, culto, tem espírito público e a imagem dos velhos e bons tempos da Câmara.
JC – É seu candidato a presidente?
CARLOS WILSON – É.
Mas o PCdoB tem o quê?
Em termos de representatividade não dá nem para discutir.
Acho que Ciro (Nogueira) terá a grandeza de retirar a candidatura e apoiar Aldo, se houver um acordo.
JC – E Michel Temer?
CARLOS WILSON – Se o PMDB vai ter (José) Sarney no senado como é que vai ter Michel Temer (na Câmara)?
JC – Mas o PT está brigando pela eleição de Tião Viana (PT) para a presidência do Senado.
CARLOS WILSON – Tião Viana não ganha a eleição, perde para qualquer um.
Porque Tião, quando assumiu a presidência do Senado no episódio de Renan (na renúncia de Renan Calheiros), trabalhou muito o nome dele, a mídia.
E o líder maior do PMDB era Renan.
Aquilo deve ter machucado ele e seu grupo.
Depois, o PT não tem grandes quadros.
São bons quadros, mas não têm peso.
A gente tem que entender que uma coisa é engolir Lula.
A elite engole.
Agora não engole o PT.
JC – Ou seja, a ministra Dilma Roussef vai ter muito trabalho para se tornar presidenta da República?
CARLOS WILSON – Muito trabalho.
Já foi dito a ela aqui.
A gente conversa muito.
JC – Mas a eleição de 2010 será uma eleição meio que zerada.
Afinal, é a primeira pós-Lula e sem Lula.
CARLOS WILSON – É uma eleição onde a direita, aliás vamos esquecer a direita, onde a elite está preparada e se preparando, mais ainda, para ganhar a eleição.
JC - E o PT não tem mais Lula candidato…
CARLOS WILSON – Pois é…
E a transferência de voto de Lula é uma coisa muito relativa.
JC – Essa tentativa de terceiro mandato não tem então nenhuma possibilidade?
CARLOS WILSON – Nenhuma possibilidade.
Lula tem é de se preparar para o que vão fazer com ele.
Porque se esse povo ganhar a eleição (para presidente) não vai deixá-lo em paz.
Lula não será embaixador do Brasil em Roma!
Se ele perder a eleição (de fazer o sucessor), vão em cima dele em tudo: Tribunal de Contas, esses órgãos de controle, denúncia de tudo que é jeito.
Ele não vai se ver livre disso.
JC - Uma composição de Lula com o PSDB, o senhor mesmo previu que seria possível no segundo governo do presidente, foi de fato tentada?
CARLOS WILSON – Ela foi tentada insistentemente.
Tanto é, que sou vítima dela.
Se procurou a aproximação com o PSDB, mas o PSDB é a burguesia de São Paulo, e agora, a elite paulistana com a mineira.
Mas uma chapa Aécio-Lula (para 2010) seria imbatível. É uma chapa muito forte.
JC – E há esse esforço para tirar Aécio Neves do PSDB?
CARLOS WILSON – Há nada.
No fim eles se compõem.
Do jeito que eu acho que a esquerda briga, briga, fala um do outro e depois se junta, eles (do PSDB) vão se juntar e com muito mais competência, com muito mais força, com muito mais estrutura do que a gente.
E com um candidato (Serra) muito forte, muito viável, com uma imagem extremamente positiva.
JC - Mas Lula tem uma candidata, a ministra Dilma Roussef, que é a candidata dele, não é a do PT.
Ela até enfrenta resistência do partido.
CARLOS WILSON – Lula é Lula e Dilma é Dilma.
Ela vai ser apresentada como uma pessoa competente, e é.
E é a candidata do PT.
Se o PT vai ter a capacidade de ampliar, de trazer outros partidos, o que eu não acredito, é outra coisa.
Essa aliança de sustentação do governo é a mais fajuta que conheço.
PT, PTB, essas coisas…
Eles estão mais para o lado do PSDB, numa eleição, até ideologicamente, estão mais próximos de Serra do que do PT.
Eu disse a Lula que enquanto ele estiver sentado em sua cadeira, o empresário tal e o banqueiro fulano vêm aqui para dizer que ele é o maior.
Mas na hora de votar, todos votarão contra a gente.
Esse eu vou citar o nome: Paulo Skaf (presidente da Federação das Indústrias de São Paulo).
Você acha que vai votar no PT?
Não vota.
Pode vir aqui propor reforma tributária…
A burguesia investiu na ignorância de Lula, no despreparo intelectual dele, sendo que ele é o mais preparado de todos os brasileiros, e a burguesia foi surpreendida.
Viajei com ele (Lula) para alguns países e fiquei impressionado com a forma como o povo o olhava.
O povo de fora, não o daqui. “Esse cara metalúrgico, presidente de um país de quase 200 milhões de habitantes!”.
E Lula dando show com aquele discurso que só ele sabe fazer.
Mas voltando ao que coloquei lá atrás: a vida não vai ser fácil se o PT perder essa eleição (de 2010).
O PT já fez isso também.
Nos momentos mais difíceis de Lula, ele contou muito mais com quem não era “PT-PT-PT”, do que os mais moderados do partido.
Eu vi e ouvi de muitos, no episódio do mensalão: “Lula está morto!”.
Ouvi demais e dizia: “Calma, não é assim”.
Mas eles achavam que tínhamos que ter outros candidatos”.
JC – O senhor já disse que é muito mais fácil se relacionar com o PT estando fora dele do que dentro.
Ainda é assim?
CARLOS WILSON – Lula foi quem me disse isso (risos).
No dia em que fui comunicá-lo que eu iria criar o PT, em março de 2003.
Na ocasião, eu disse a ele: “Todo mundo sabe de minha ligação com o senhor, mas agora não lhe darei mais o direito de escolher um partido para mim.
Porque todos que o senhor escolheu foram errados.
Eu levo a culpa de ter mudado de partido muitas vezes.
Seu sonho era ter Tasso Jereissati (senador do PSDB) como seu vice, por isso me empurrou para o PSDB.
Tasso hoje é seu adversário ferrenho e eu estou aí.
Então vou me filiar ao PT”.
Ai ele me disse: “Agora é que você vai ter problema.
Vai ver o que é o PT”.
E era briga de João Paulo com Humberto, e eu vendo se ajudo…Mas é pau”.
JC - E o tal movimento pela integração do PT não avançou?
CARLOS WILSON – Como é que pode haver integração do PT?
Se um cara é ministro de Lula e Lula tem um candidato à presidência do PT, que era Ricardo Berzoini, e esse ministro vota contra o candidato do presidente! É um negócio mal resolvido.
A gente tem que amadurecer.
Graças a Lula, o PT chegou a ter um presidente da República.
Mas o PT é muito novo, os partidos são muitos novos, o tempo vai se encarregar, com essa reforma política, de mudá-los.
Tem de ter financiamento público de campanha, vai ter que ter.
JC - Quer dizer então que o tal movimento pela integração do PT não ganhou gás?
CARLOS WILSON – Não.
São várias tendências que não conseguiram ainda amadurecer o suficiente para entender que tudo é PT.
Veja João da Costa: fez uma composição competente, atendeu a todas as tendências, mas são tendências.
Na hora da eleição do PT, uma vai ter um candidato e a outra vai ter outro.
Não dá.
Já a direita, essa se junta na doença e na morte.
JC - Gostou do governo João da Costa?
CARLOS WILSON – Para quem foi candidato, da forma que ele foi, com uma candidatura imposta, ele mostrou que tem personalidade.
Depois, ele é altamente competente, tem tudo para fazer uma boa prefeitura.
Não vejo em João da Costa aquela vontade de querer ser poder, de querer formar uma liderança passando por cima de Eduardo, de João Paulo.
Ele quer ser um bom prefeito.
Quer deixar uma marca.
João da Costa quer ser um Pelópidas da Silveira (ex-prefeito do Recife).
Ele é um tipo desse. É um tipo de querer cuidar.
JC – E João Paulo, é indiscutivelmente hoje uma liderança consolidada, para pleitos imediatos, inclusive?
CARLOS WILSON – Ele é candidato a tudo.
Está preparado para ser deputado, senador, governador.
Mas acho que vão ter que se entender aqui porque a eleição de Serra é muito mais forte.
E aqui também, se brigarem, o PFL e o PSDB armam uma candidatura e podem ganhar a eleição.
João Paulo é um sujeito muito determinado.
Alguns valores são diferentes para ele. É um cara que dorme três a quatro horas por dia, faz meditação…
Só que tem um outro cara que também é determinado, que é o doutor Eduardo Campos.