Por Cleide Alves, de Cidades / JC Sentado na cadeira de prefeito do Recife há 18 dias, João da Costa herdou de João Paulo Lima e Silva, companheiros no Partido dos Trabalhadores (PT), uma cidade com déficit habitacional de 30 mil moradias e infestada por 1.730 outdoors e anúncios luminosos.

No Centro e em bairros comerciais, como Afogados, Casa Amarela e Encruzilhada, calçadas são ocupadas por barracas.

Devido ao movimento intenso de ambulantes e fregueses, o lixo fica amontoado em volta de postes e no meio-fio o dia inteiro.

O ordenamento do comércio informal é um desafio para João da Costa.

Camelôs afirmam que votaram nele nas últimas eleições na certeza de que poderiam colocar tabuleiros nas ruas sem aperreios. “Nós, os pobres, elegemos João da Costa para ele deixar a gente trabalhar”, afirma Delmira da Silva, 38 anos. É o mesmo discurso de todos os ambulantes.

Delmira vende macaxeira na calçada da Rua Padre Lemos, em Casa Amarela, Zona Norte da cidade, há 29 anos. É com o dinheiro apurado na rua que ela sustenta o filho e a casa onde vive, na Guabiraba, também na Zona Norte.

Vendedora de frutas há 22 anos na Estrada dos Remédios, perto do Mercado Público de Afogados, na Zona Oeste, Severina Maria da Conceição Silva, 57, disse que trabalha com tranquilidade na rua há oito anos. “Desde que João Paulo assumiu a prefeitura, não tive problemas.

Acho que João da Costa também não vai mexer com a gente”, diz ela, que organiza os tabuleiros em volta de um orelhão.

Severina mora no Cabo de Santo Agostinho, município do Grande Recife, com seis filhos (dos 13 vivos) e um neto. “Não voto no Recife, mas pedia votos para João da Costa a meus fregueses.

Torci muito por ele.” Ela acredita que os pedestres não reclamam nem da ocupação da calçada nem do acesso obstruído ao telefone público.

Mas não é bem assim.

A aposentada Irani Amaral, 45, moradora de Afogados, reclama da falta de ordenamento dos camelôs, do pouco espaço para locomoção de pedestres nas calçadas, da dificuldade de pegar ônibus porque o passeio público é cheio de barracas e frutas espalhadas pelo chão. “Quero encostar um táxi para descer e não consigo.

Sou obrigada a parar no meio da rua.” Ela espera do prefeito uma solução que garanta, ao mesmo tempo, o emprego dos ambulantes e o conforto dos pedestres. “Os camelôs não podem ficar desempregados, todos precisam trabalhar e sustentar as famílias, mas do jeito que está não pode ser. É preciso organização.

Com essa desordem, eu perco a vontade de fazer compras em Afogados”, diz a aposentada.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) havia 134 mil desempregados no Recife, em novembro de 2008.

O número de pessoas ocupadas (carteira assinada, sem carteira assinada, autônomo), no mesmo mês, chegava a 598 mil.

Duas vezes por semana, a prefeitura divulga vagas de emprego para profissionais que estão fora do mercado formal de trabalho.

Queixa semelhante é feita na Encruzilhada, bairro da Zona Norte distante cerca de seis quilômetros de Afogados, pela aposentada Maria Angelita da Silva, 69. “A prefeitura poderia organizar o comércio informal, abrir mais espaço para pedestres.

Além disso, as calçadas são quebradas e sempre tem muito lixo”, diz Maria Angelita sobre a Avenida Beberibe.

Comerciante há 23 anos na calçada da Avenida Beberibe, Maria do Carmo de Melo, 61, confia que João da Costa vai fazer um governo semelhante ao último prefeito. “João Paulo trabalhou muito bem nesses oito anos.

Ele deu muita liberdade para o povo trabalhar nas ruas, tomara que João da Costa faça o mesmo, assim terá menos miséria na cidade”, diz ela.

Lixo também atormenta o bairro de Casa Amarela, tanto na Rua Padre Lemos quanto no entorno do pátio da feira.

Postes servem de encosto para bagaços de cana e caixas de papelão com descarte de coco verde.

Os seis depósitos colocados no pátio da feira são insuficientes para a quantidade de lixo produzida no local. É cena comum durante o dia se deparar com os resíduos esparramados na calçada.

Por causa do chorume, o mau cheiro no local afasta os clientes. “O caminhão só passa à noite, porém a coleta deveria ser feita duas vezes por dia, no mínimo”, sugere o feirante Luís Fernando Figueiredo Filho, 46, vendedor de massa de mandioca e coco. “Tem horas que o lixo chega até um pedaço da rua, é horrível porque os fregueses deixam de comprar aqui.

A gente liga para a limpeza urbana, reclama, avisa da imundície, mas o carro só passa à noite, não tem jeito”, reforça.