Por Renato Lima Diz-se, na psicanálise, que uma das primeiras reações quando alguém se depara com algo grave é a negação.

Reluta-se a acreditar que tal coisa seja verdade. É um mecanismo de conforto sempre que alguém se recusa a enfrentar uma situação difícil.

A negação não dura para sempre e o paciente acaba tendo que reagir de outra forma.

Pode enfrentar a realidade ou utilizar um mecanismo de transferência.

Isso consiste em atribuir uma característica ou responsabilidade própria dele a algum outro.

O presidente Lula primeiro disse que no Brasil não teria crise econômica (“É um problema do Bush”) e que, se chegasse aqui, seria uma marolinha.

O discurso da negação já foi mudado pelo governo.

Depois de ter que editar medidas provisórias liberando recursos das reservas internacionais para intervir no câmbio e emprestar para empresas, reduzir o IPI de veículos novos, possibilitar que bancos públicos comprem sem licitação bancos privados, entre outras medidas, não dá para negar que existe crise e que ela chegou em Pindorama.

Mas mesmo com esses pacotes, o IBGE mostrou que em novembro o comércio teve uma queda de 0,7% nas vendas e o emprego na indústria recuou 0,6%.

A produção industrial teve queda ainda maior, de 5,2% em comparação com outubro ou 6,2% em relação a novembro de 2007.

Ou seja: a produção teve uma queda bem maior do que o emprego na indústria, mostrando que o industrial segurou o pessoal mesmo com produção em queda.

Mas para dezembro já se sabe que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) virão fortemente negativos.

O que fez o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, dizer que o governo deveria “punir” os empresários que demitiram e que a crise acaba em dois meses, pois, como segue a filosofia de vida carioca, ele sabe que isso é apenas espuma (quem não acredita confira o Estado de São Paulo de 15 de janeiro).

Num típico processo de transferência, a culpa do desemprego deixa de ser a crise real para a “maldade” dos empresários, que deveriam ser punidos pelo governo.

Vale lembrar para Lupi que o problema da inflação no Brasil só foi resolvido quando o discurso fácil e inconsequente que dizia que o problema era originado pela “ganância dos empresários” foi substituído por um plano inteligente, que combinou restrição de gastos do governo, âncora cambial e desindexação.

Hoje, o País precisa de reformas que aumentem a nossa competitividade, como a tributária e trabalhista, o que ajudaria a combater a crise.

Na tributária, a que se discute no Congresso inclui a diminuição dos impostos cobrados na folha salarial, o que daria automaticamente um impulso a contratações.

Em vez disso, a reforma empreendida foi a ortográfica. É preciso acabar com o recalque desse governo e fazer reformas de verdade, em vez de negar ou transferir problemas.