Por Carla Seixas, de Economia / JC Classificada como a maior obra de infraestrutura em realização na América Latina, a integração do Rio São Francisco, conhecida como transposição, e com custo inicial de R$ 4,69 bilhões, caminha a passos lentos. É tanto que havia nos canteiros de obra que partem de Pernambuco a expectativa de que o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva visitasse pela primeira vez a construção do maior investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na próxima quinta-feira, mas ele terminou desistindo.

Questionados sobre o assunto, integrantes do Ministério da Integração negam a versão da desistência e apenas se limitam a dizer que não há previsão de data para a visita, embora a possível vinda na quinta-feira fosse o assunto predominante nos canteiros de obra quando a reportagem do JC esteve no local, na semana passada.

Coincidência ou não, o secretário de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração, João Santana, percorreu a obra nos últimos dias, com demais técnicos da pasta, fazendo uma análise sobre o andamento do transposição.

Há também o início de um movimento para que os custos dos lotes sejam revistos, à exemplo do trecho em Cabrobó, sob a responsabilidade do Exército, e que já está pleiteando aditamento de contrato.

Oficialmente, o governo trabalha com o valor de R$ 4,69 bilhões.

Do total dos recursos, foram contratados R$ 3,06 bilhões e gastos R$ 284,1 milhões.

A obra de transposição consiste na construção de dois canais, divididos em 14 lotes de obras.

São dois eixos: o Leste e o Norte.

O primeiro parte de Floresta, em Pernambuco, terá 287 quilômetros de extensão, 12 barragens e segue até o município de Monteiro, na Paraíba.

Já o Norte parte de Cabrobó, em Pernambuco, com 426 quilômetros e 15 barragens.

Ao longo da obra, outras intervenções serão necessárias para o andamento da transposição, tais como aquedutos (42 no total) e túneis (5).

O eixo Norte da obra possui oito lotes, contra seis do Leste.

Ao longo do caminho, o canal terá, em boa parte dos trechos, até 36 metros de profundidade e em torno de 14 metros de largura.

O governo federal - responsável pela obra - ainda evita admitir atraso na conclusão dos trechos, mas questões como a falta de titularidade das terras e as licenças terminaram postergando o início em alguns trechos.

No levantamento feito até a sexta-feira por integrantes do ministério, dos oito lotes do eixo Norte, três ainda estão em fase de contrato.

Os demais estão em processo de trabalho, embora até os canteiros ainda estejam sendo construídos.

No eixo Leste, o lote 10 ainda está em fase de contrato, enquanto nos demais estão sendo instalados os canteiros.

O primeiro prazo vence em 2010, quando o eixo Leste precisa estar pronto.

Já o Norte segue até 2012.

A reportagem visitou os dois pontos de partida da obra em território pernambucano (Floresta e Cabrobó) e constatou que intervenções como as barragens e o próprio canal - estrutura responsável por levar a água ao longo de 26 municípios por onde passará a obra entre os Estados beneficiados (Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte) - ainda estão em fase de escavação em vários trechos.

Em Petrolândia, local próximo a Floresta, onde o Exército realiza a obra de seis quilômetros do canal partindo do rio e mais a primeira barragem, de um total de 27 a serem feitas ao longo da obra, a informação oficial é que 25% da escavação do canal foi feita.

Mesmo assim, a previsão é que em abril de 2010 o destacamento vindo do Piauí entregue sua parte nesse município.

O tenente-coronel do destacamento que opera a obra em Floresta, Vanilson Gurgel Vaz, alega que 60% da barragem está feita. “Faltam oito metros para chegarmos a altura necessária de 354 metros”.

Na obra, a reportagem tentou conversar com a diretoria de engenharia de uma das empresas envolvidas, a Encalso, mas o governo está “orientando” para que as construtoras não comentem os prazos ou outra informação da obra para concentrar os dados.

Apenas o corpo do Exército concede entrevista com aval do ministério.

Mesmo sem alterar oficialmente os prazos de entrega de 2010 para o eixo Leste (entre Petrolândia e Monteiro, na Paraíba) e 2012 para o eixo Norte (Cabrobó e Ipaumirim, no Ceará), ainda é difícil identificar canteiros, como é o caso da Egesa, empresa que vai substituir a Camargo Corrêa, em Floresta, para execução do lote 9, que vem logo na sequência do trabalho do Exército.

Essa substituição já foi, inclusive, consequência do custo da obra que a Camargo Corrêa queria elevar antes de iniciar o processo.

Em Cabrobó, onde o Exército também é responsável por um trecho de dois quilômetros e uma barragem, a estimativa é que 7% da parede da barragem foi feita, embora a entrega prevista dentro do destacamento, segundo o 1º tenente e um dos engenheiros do Exército para esta intervenção, João Oka, está mantida para dezembro deste ano.

Na área serão inundados 325 hectares.

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