Os ventos eleitorais de 2010 já começam a influenciar na montagem das alianças regionais que estão definindo a nova direção das Câmaras de Vereadores de capitais importantes.
Em Belo Horizonte, capital do segundo maior colégio eleitoral do País, encerrou-se o ciclo de 15 anos de comando petista ou de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A presidência da Câmara Municipal ficou com o PPS da vereadora Luzia Ferreira que, embora tenha sido eleita com o apoio do PT, pertence à legenda que mantém um discurso anti-Lula no Estado e, no plano nacional, trabalha para levar a oposição ao Palácio do Planalto.
Bastaram dois meses para fazer ruir a aliança o PSB da governadora do rio Grande do Norte, Vilma de Faria, o PMDB do presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves e o PT da deputada Fátima Bezerra.
Mesmo após a derrota para o PV da nova prefeita de Natal, Micarla de Souza, eleita em parceria com o DEM, os três partidos governistas (PT, PSB e PMDB) deram sinais de que sustentariam a aliança até 2010.
Foi o que sugeriu o presidente Lula em discurso no palanque petista, marcando participação ativa na campanha de Natal.
Agora, contudo, o PMDB já admite desertar da aliança governista e compor com a oposição Garibaldi e o líder do DEM no Senado, José Agripino, estão se articulando para disputar em dobradinha as duas vagas do Senado, provavelmente contra Vilma Faria, que encerrará o segundo mandato no governo estadual.
Isto, apesar de o PMDB e o PSB terem iniciado conversas em torno da indicação do vice-presidente em uma eventual chapa encabeçada pela ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, avaliando que a aliança potiguar serviria como “embrião” para acordos do mesmo naipe em outros estados.
Em Salvador, o PMDB local, comandado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, articulou-se novamente com o DEM do deputado ACM Neto e derrotou o PT do governador Jaques Wagner na briga pela presidência da Câmara.
Geddel diz que tentou formar uma chapa conjunta com o PT, mas que a proposta foi recusada pelos mesmos petistas que haviam abandonado seus postos na prefeitura para lançar candidato contra o prefeito reeleito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB).
O PT optou por concorrer com chapa própria e o resultado é que acabou derrotado mais uma vez, com um agravante: apresentou oito candidatos à Mesa Diretora da Câmara Municipal e, ao final, obteve apenas seis votos.
Há dez dias, todos foram surpreendidos com a renúncia do recém eleito comandante da Câmara, vereador Alfredo Mangueira, depois de assumir publicamente suas ligações com o jogo do bicho.
O vice Paulo Magalhães Júnior (DEM) assumiu a presidência e, agora, ACM Neto e Geddel aguardam parecer da consultoria jurídica para definir se haverá nova eleição em que o PMDB possa recuperar o posto.
Mas a disputa não vai abalar a parceria. “Defendo e vou trabalhar por uma aliança entre o DEM e o PMDB da Bahia em 2010”, diz Neto, confiante de que “o PSDB terá de vir conosco, naturalmente, porque não pode continuar linha acessória do PT baiano.” “É natural que se especule, mas não temos compromisso futuro algum.
Meu caminho preferencial na Bahia é a aliança com o PT, mas o que vai acontecer em 2010, eu não sei”, afirma Geddel.
De qualquer forma, sua parceria local com o DEM é vista como mais um movimento que sinaliza o desembarque peemedebista do governo do PT, já enxergando um potencial maior na candidatura presidencial de oposição.
Afinal, a tentativa de composição com o PT baiano para definir o comando da Assembleia Legislativa também fracassou, embora Geddel tenha se oferecido para apoiar um petista.
Em se tratando de Bahia, o parceiro tradicional do PT é o PSDB do deputado Jutahy Júnior.
Exatamente por isto, o deputado estadual tucano Marcelo Nilo presidiu a Assembleia na primeira metade do mandato de Jaques Wagner. “O inusitado é que Marcelo Nilo assumiu por escrito o compromisso de não disputar a reeleição e, ainda assim, o PT opta por ele”, lamenta Geddel, lamentando ter de “administrar as desconfianças e as inseguranças” do PT local, temeroso de que o PMDB rompa a aliança em 2010 e lance o ministro contra Wagner na briga pelo Palácio de Ondina.
Em Belo Horizonte, onde o prefeito Márcio Lacerda (PSB) compôs chapa com o PT, a nova direção da Assembleia e os primeiros dez dias de governo só serviram para reforçar sua imagem de aliado e afiliado político do governador tucano Aécio Neves (PSDB).
Instalados na prefeitura desde 1993, os petistas ainda ocupam algo em torno de 70% dos postos-chave. “O PT tem forte presença no secretariado, mas não está sozinho, ditando as cartas da administração municipal”, destaca o deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG).
O tucano admite que o prefeito Márcio Lacerda “é Lula e é Aécio”.
Salienta , contudo, que esta imagem é “ótima” para um governador que tem o apoio de 83% dos mineiros para disputar a presidência da República, porque fortalece sua posição diante de partidos que deverão estar em palanques diferentes na sucessão estadual, como o PMDB.
Aécio e o governador de São Paulo, José Serra , são os principais nomes do PSDB para a disputa presidencial do ano que vem.
Diferentemente de Belo Horizonte, na capital do maior colégio eleitoral brasileiro PSDB e PMDB caminham juntos.
A parceria preferencial de Serra é com o DEM do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que conseguiu atrair o PMDB para sua chapa na campanha pela reeleição, ampliando a aliança com os tucanos.
A vice de Kassab é a peemedebista Alda Marco Antonio.
No legislativo estadual, o cenário se repete.
O PSDB e o PMDB paulistas andam juntos, ao contrário do que ocorre no plano nacional.
Mas não é só a oposição que tem conseguido abocanhar apoios de aliados do governo federal.
Em São Bernardo do Campo (SP), o PT conseguiu trazer o DEM para eleger o pupilo do presidente Lula, o ex-ministro Luiz Marinho.
O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), adverte que é “prematura” a conexão de alianças locais neste momento com as eleições de 2010. “Vivemos o momento de clímax da salada política brasileira”, justifica.
Embora cauteloso, ele vê na aproximação do PMDB com partidos da oposição um sinal claro de que a aliança nacional com o PT não está tão sólida assim.
Da Agência Estado