Para nós brasileiros de classe média (somos quantos? 5%? 10%) e que não conhecemos a realidade de 90% do nosso povo, que não tem como pagar um plano de saúde, com educação precária, com pouca alimentação, que fica com os restos do desperdício dos 10%, é difícil entender a lógica econômica de uma sociedade voltada para os 100% da população.

E ficamos horrorizados por eles não terem papel higiênico.

Mas não nos deixam horrorizados que tenham bibliotecas e livrarias em toda escola e em toda cidadezinha.

Ou que tenham acesso à saúde e educação da melhor qualidade, habitação com saneamento e aparelhos eletrodomésticos novos que economizam energia.

Ou, que vivam em um País sem degradação ambiental.

E a busca do conhecimento?

E as escolas?

Todas as escolas têm bibliotecas muito bem servidas de livros que vão de José Saramago passando por Marx, a Lênin, de Jorge Amado, Machado de Assis, a Shakespeare.

O investimento na potencialidade do ser humano não para ai.

O desenvolvimento das artes – dança, pintura, música, poesia, desportos – é encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade. É assim, uma sociedade muito diferente que estimula e atrai a curiosidade, a admiração e o amor de milhões mundo afora.

Aliás, nada melhor para ilustrar isto do que a crônica do Clovis Rossi, o “pop star” se aposenta do dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo, relatando o episódio de um encontro do GATT, com a presença dos chefes de Estados, diferentes autoridades mundiais e jornalistas de todo o mundo.

Diz ele que o burburinho na sala do encontro e na sala dos jornalistas era enorme, com a atenção dispersa.

Quando se anunciou Fidel Castro houve uma grande agitação, com todos procurando o melhor lugar para assisti-lo e “ao terminar, uma chuva de aplausos, inclusive de seus pares, 101% dos quais não tinham nem nunca tiveram nenhum parentesco e/ou simpatia com o comunismo.

Difícil entender o que aconteceu ali.” Para terminar, quero colocar uma idéia desenvolvida por vários cientistas cubanos e sintetizada pelo jornalista Jesus Rodrigues Diaz, falando sobre o potencial no desenvolvimento do conhecimento quando ele se da de forma coletiva: “Temos que insistir também que, quando falamos do Potencial Humano criado pela revolução, não nos referimos exclusivamente à quantidade de conhecimentos técnicos incorporados em nossa população.

Mais importante ainda é a semeadura de valores éticos, de atitudes ante a vida.

Na sociedade do conhecimento faz falta um cidadão com vocação de aprender e de criar, e de levar seus conhecimentos aos demais seres humanos.

Os conhecimentos técnicos nos podem dizer como se trabalha, porém são os valores que nos fazem compreender porque se trabalha e deles tiramos as motivações e as energias para seguir adiante.Que se passa agora se os conhecimentos se voltem ao fator mais importante da produção, inclusive os bens de capital?

Não é difícil de prever.

A resposta do capitalismo é a intenção de converter também o conhecimento em Propriedade Privada.

Porém, a boa notícia é que isto não vai funcionar.

O conhecimento não e igual ao Capital.

Está nas pessoas e não se pode facilmente privatizar.

O conhecimento requer circulação e intercâmbio amplo.As leis da propriedade intelectual inibem este intercâmbio.

O conhecimento é validado pela sua aplicação social, não pela sua venda.

O uso amplo dos produtos do conhecimento é o que os potencializa”, termina o jornalista.

Esta é a grande limitação do raciocínio capitalista em entender a potencialidade da criação coletiva.

Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas do conhecimento.

O maior feito desta pequenina ilha, com um povo cheio de dignidade e coragem, terá sido o de mostrar ao mundo que é possível construir uma sociedade baseada no ser humano e não na mercadoria e na acumulação de capital.

E isto ameaça o mundo capitalista, e é rejeitada pela imprensa e por uma parte da sociedade que quer impor às condições de suas vidas para a totalidade do mundo.

Mas, Cuba não esta só.

Existe hoje uma rede internacional de solidariedade ocasionada pelos médicos e professores cubanos em mais de 100 países, pela Operação Milagros (cirurgias de catarata feitas por médicos cubanos, em pessoas pobres de quase todos os Paises da América Latina e Caribe, ficou conhecida como operação Milagro após uma visita de Fidel a uma pequena cidade do interior da Venezuela, onde uma mulher pós-operada e ter de volta a visão, disse que foi um Milagro (em espanhol, e Milagre em português) dos médicos cubanos pelas brigadas de solidariedade e por todos aqueles que acreditam que Um Outro Mundo é Possível e que lutam pela sua construção.

PS: Expedito Solaney, participou do VII encontro Hemisférico contra os Tratados de Livre Comércio em Cuba no mês de abril/08, é Secretário Nacional de Políticas Sociais da CUT.