Deu no Jornal do Commercio desta segunda A polêmica sobre a legalização do aborto, que opõe o Ministério da Saúde à Igreja e à bancada evangélica no Congresso, vai ganhar um novo capítulo nas telas.

A Fundação Oswaldo Cruz, vinculada à pasta, liberou R$ 80 mil para a filmagem do documentário O fim do silêncio, uma coleção de depoimentos de mulheres que interromperam a gravidez e defendem a descriminalização da prática.

Em fevereiro, o órgão distribuirá gratuitamente duas mil cópias em DVD para escolas e entidades feministas.

O projeto venceu 35 concorrentes e foi o único documentário de média-metragem selecionado no primeiro edital de vídeo da Fiocruz.

Também receberam patrocínio filmes de ficção que abordam temas de saúde.

A diretora Thereza Jessouroun diz ter idealizado o roteiro ao ouvir declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a favor da descriminalização do aborto.

Segundo ela, o projeto se materializou após a abertura do edital da Fiocruz. “Assim que tomou posse, o ministro disse que o aborto é uma questão de saúde pública.

Achei a declaração corajosa e comecei a pesquisar o tema, até sair o edital da Fiocruz”, conta.

Thereza nega que seu documentário seja uma peça de propaganda, mas admite que o filme só dá espaço a um dos lados da discussão. “Documentário não é jornalismo, que tem a obrigação de ser imparcial.

Tem que ter posição marcada, e este é claramente a favor do aborto”, afirma.

A cineasta diz que chegou a entrevistar especialistas contrários e favoráveis à prática, como previa o projeto original, mas optou por manter apenas a participação das mulheres.

A pedido da direção da Fiocruz, o material descartado será incluído nos extras do DVD.

Há um mês no YouTube, o trailer de O fim do silêncio já recebeu mais de 2.500 visitas e tem provocado um debate caloroso entre os espectadores.

O filme mostra os rostos das entrevistadas, identificadas com nomes e profissões.

Na montagem, os depoimentos foram encadeados por estimativas segundo as quais 200 mulheres morrem em cerca de um milhão de abortos realizados a cada ano no País.

A fita entregue à Fiocruz tem 52 minutos, mas a diretora pretende reaproveitar o material numa versão estendida para a tela grande.

Mesmo antes do lançamento, o filme já desperta críticas de religiosos.

Dom Antonio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio e integrante da Comissão de Vida e Família da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), critica o patrocínio da Fiocruz: “Não me parece correto financiar com dinheiro público um filme que defende posições pessoais do ministro”.

Um relatório sobre a concorrência, disponível no site da fundação, informa que, “como critério principal, ficou estipulado que os projetos a serem selecionados devem estar de acordo com o ideário da Fiocruz”.

O diretor do selo Fiocruz Vídeo, Umberto Trigueiros, diz que o documentário foi selecionado por uma comissão de críticos e não sofreu interferências do órgão.