Por Ana Lúcia Andrade, de Política / JC O novo presidente da Câmara do Recife, Múcio Magalhães, está determinado a implementar “transparência” na casa. “Para dentro e para fora”, promete.
Ao lamentar o escândalo das notas frias, ele também se ressente da forma como foi debatido na sociedade. “Fragilizou o Poder.
Isso é muito ruim para a democracia”.
A seguir trechos da entrevista concedida na sexta-feira.
A PRESIDÊNCIA “Tudo que vem ocorrendo de ruim, todos os anos, é no Legislativo.
Com exceção do mensalão, que começou no Executivo, sempre tem um coisa no Legislativo.
Eu defendo o Poder, mas qual é a maneira mais correta de defendê-lo? É fazer com que a população enxergue nele primeiro a sua utilidade, a sua importância.
Por exemplo, a população enxerga muita coisa boa no governo João Paulo, mas quem aprovou?
A Câmara que se envolveu no escândalo das notas frias é a mesma que aprovou tudo que aconteceu nesse governo.
Sem ela não teria ocorrido muita coisa boa na cidade.
Esse foi um problema generalizado (o das notas frias).
Quando se mergulha nele, se vê que há ‘n’ casos.
Mas acho que faltou um órgão de controle interno mais eficiente, faltaram métodos de orientação aos próprios vereadores de como fazer uma prestação de contas.
A Câmara tem que investir no controle interno.
Tem que ter todos os mecanismos necessários, não sei exatamente quais, para um funcionamento extremamente profissional e eficiente.
Não conheço a máquina da Câmara, mas acho que o fundamental é isso: ter transparência dentro e fora.
Há algumas ideias sendo trabalhadas, essa coisa de colocar as contas na internet, tudo isso tem que funcionar para valer.
Não sei quantas pessoas estão lá, mas tem que se ter uma estrutura boa lá dentro.
Vou defender que ela seja criada.
Imagino que se forem criados esses mecanismos será muito difícil essas coisas ocorrerem de novo.
Tem que profissionalizar, dar transparência para dentro e para fora.
Transparência não dói.” NOTAS FRIAS “O que me incomoda nesse debate é que as pessoas não podem confundir o Poder Legislativo com seus membros.
O debate que se fez na sociedade foi de tal modo contundente que terminou fragilizando o próprio Poder.
Isso é muito ruim para a democracia.
Se as pessoas discordam da prática de um vereador, não vota nele.
Tem que se condenar o vereador, se ele não teve uma relação republicana com o dinheiro público, mas a Câmara é um Poder importante, não se pode igualar as pessoas ao Poder.
O que está mais forte na minha cabeça é fazer com que o Poder, enquanto tal, conquiste o respeito e a simpatia das pessoas, ocupe o seu lugar no jogo democrático com todas as prerrogativas que ele tem, porque acho que o Poder perdeu muito.
Isso vem repercutindo nas eleições.” A CÂMARA “Agora sou parte do Poder.
A relação já muda (de quando era secretário).
Tenho uma intimidade muito grande com a maioria dos vereadores que eram da bancada do governo, mas uma relação de Executivo com a bancada do governo.
Todos sempre iam lá (na prefeitura).
A gente implantou uma concepção nova (de relação) porque a impressão que tivemos é que a secretaria só tinha relação com a Câmara.
Criamos uma secretaria de articulação interna com as outras secretarias, com os partidos aliados, com os movimentos sociais e com a Câmara.
Funcionei em tudo, mas não era aquele cara que estava inteiramente à disposição dos vereadores.
Uma das primeiras polêmicas que tive foi numa reunião de governo quando me perguntaram como é que iria funcionar a secretaria.
Eu disse, simples: a gente telefona e agenda.
Esse cara foi para o jornal, reclamar em off.
Eu tinha muito mais o que fazer.
Só me reunia quando era preciso.
Mas dentro dos limites do Legislativo, que são muitos, se pode fazer muita coisa.
Debater muita coisa.” O MANDATO “Sempre me ocupei muito da articulação política.
Quando entrei na chefia de gabinete (de João Paulo) minha primeira função foi a de fazer acordo com o movimento sindical.
Vim para o Recife estudar Veterinária, mas fiquei estudando e militando.
Foi quando, em 89, me chamaram para a coordenação da campanha de Lula e, coincidentemente, recebi minha primeira proposta de trabalho como veterinário.
Terminei minha carreira e a partir daí ela morreu.
Quando terminou a campanha de Lula o pessoal do Sintepe me chamou para lá e depois João Paulo me levou.
Sou assessor dele até hoje.
Mas nunca pensei em disputar um mandato.
Ele veio dentro da discussão do núcleo de que era importante eu cumprir essa tarefa.
Mas projeto político, nunca tive.
Até porque sou de uma geração que acredita que quem está a serviço de uma causa, ter projeto pessoal atrapalha.
Desde meus tempos da Pastoral que optei por estar a serviço de uma causa.” JOÃO DA COSTA “Desde que comecei a militar na Pastoral, depois no movimento estudantil, que João da Costa era o presidente e eu era o da geral, o cara que fazia contato.
Não é à toa que João Paulo me colocou para ser secretário de Governo.
Quem articula não aparece muito, né?
Eu estava lembrando que em 84 a gente ganhou o DCE da Rural e hoje ele é o prefeito!
Nunca imaginava uma coisa dessa!
Naquela época a gente dirigia 4.500 estudantes e agora um milhão e meio de pessoas!
João tem suas características, ele se revelou, foi secretário executivo de Saúde do Cabo, na época de Elias Gomes, foi de uma secretaria que lida com a participação popular, tudo porque tem uma aptidão executiva muito forte.
Acho que João Paulo escolheu certo, escolheu o cara que se preparou mais para o Executivo.
Do grupo, do ponto de vista do Executivo, é o cara que acumulou mais experiência.
Ele e Lygia.
Eu fiquei mais na articulação política.
A coisa mais forte que fiz foi ser secretário de Governo.”