Veja a entrevista do prefeito eleito João da Costa ao JC, hoje.
JORNAL DO COMMERCIO - João Paulo revelou que o presidente Lula queria o senhor fora da disputa.
Como viu isso?
JOÃO DA COSTA - Essa questão não é mais importante.
Em determinado momento o presidente pode ter avaliado que uma alternativa a mim seria mais interessante para o projeto político.
Mas talvez não tivesse os elementos que João Paulo tinha para acreditar em mim. É natural que isso possa ter acontecido.
Foi um momento.
Não houve uma arquitetura, uma estratégia, mas uma preocupação que, numa reflexão rápida, se resolveu.
JC - Graças à firmeza do prefeito João Paulo.
COSTA - Isso.
Evidentemente que outras experiências do PT, em que a vontade das bases não foi respeitada por uma avaliação estratégica, e deu errado, também pesaram.
A discussão de não ter prévias, porque pelas experiências anteriores poderiam prejudicar a candidatura do PT, faz parte dessa mesma experiência já vivida.
As prévias, muitas vezes, funcionam mais como instrumento dos adversários do que como instrumento democrático.
Mas isso está superado.
JC - Como ficou a relação com Lula depois desse episódio?
COSTA - (Risos) Está ótima, nunca teve nenhum problema por conta disso, aliás, com ninguém.
Não houve nenhuma questão fundamental em que o presidente se empenhou para eu não ser candidato.
Ele apenas manifestou uma preocupação a partir das informações que tinha.
Mas a partir do momento em que João Paulo colocou as informações, e foi firme na sua posição política, ele não só aceitou como participou da campanha.
JC - O senhor concorda com João Paulo de que a maior dificuldade da campanha foi a relação com “parte” da mídia e do Ministério Público?
COSTA - Corroboro porque fui vítima dos dois.
Talvez eu tenha sofrido mais do que João Paulo.
Qualquer analista, parcialmente isento, que analise as publicações na imprensa nos últimos oito meses, e na disputa eleitoral, verá que houve uma certa parcialidade de parte da mídia.
Não sou contra que os órgãos de comunicação possam expressar uma opinião política.
Coloque lá no seu editorial, diga que o pensamento ideológico da organização é esse.
Nós sabemos qual é.
Agora quando cobrir os fatos políticos é diferente.
E às vezes o peso para determinados fatos foi diferenciado na cobertura.
Desde quando houve a decisão do juiz Nildo Nery de pedir minha cassação, que eu disse que respeitava a decisão da Justiça.
Mas a Justiça e o Ministério Público são feitos por homens que têm valores, crenças, e que por mais que queiram praticar direito positivo e imparcialidade do direito têm valores ideológicos, políticos e podem ser vitimados por alguns erros.
Tanto é que a Justiça tem diversas cortes para evitar que isso aconteça.
A gente tem que ter cuidado para não criar o instituto da condenação.
O Estado Democrático de Direito diz que a pessoa é inocente até que se prove o contrário.
E estamos indo para uma situação, talvez em função da falência de diversos instrumentos públicos, de que as pessoas são culpadas antes da prova encontrada.
Veja o caso desse acidente.
O cara já estava condenado!
Aí se descobre, pelo laudo, que o outro avançou o sinal.
E todo o desgaste que foi feito de uma semana?
Isso está acontecendo na vida real e na política.
Qualquer denúncia de um promotor contra um político hoje, antes mesmo de ele ser julgado, já é criminalizado.
Não se espera defesa, não se entra nos meandros dos processos, se foi erro formal, ninguém quer saber disso, se condena.
Eu aceitei pagar a multa mas não concordo com ela.
Nunca concordei que pudesse ser culpado pela publicação daquela revista do OP.
Uma revista que dá informação e é transparente.
A mídia e os partidos de oposição vasculharam aquelas obras todas para ver se era propaganda enganosa e não encontraram praticamente nada.
Erros formais de uma ou cinco, no máximo, em mais de três mil, em mais de três milhões de reais decididos diretamente pela população!
E isso foi tratado como propaganda antecipada e uso da máquina.
Não posso me conformar com um negócio desse!
Então eu acho que a consolidação da Democracia no Brasil exige uma reforma política, partidária, mas quem é que regula a mídia?
O Ministério Público?
A Justiça?
A gente, que está na vida pública, tem de se eleger a cada quatro anos, tem o Tribunal de Contas do Estado, o da União, Ministério Público do Estado, do Tribunal de Contas, Ministério Público da União, uma mídia que nos fiscaliza 24 horas!
Agora quem é que controla esses outros atores para que tenhamos uma sociedade democrática de direito?
Quem é que controla um erro da mídia que criminaliza alguém erradamente como já aconteceu diversas vezes?
Quem é punido?
Ninguém!
Não vi nem se ter dor de consciência, ética, nada!
Vira-se a página e parece que nada aconteceu.
JC - O senhor defende um órgão de controle da mídia?
COSTA - Precisa ter controle para que a gente possa ter uma Democracia em que seja respeitado o direito das pessoas.
Quem faz o OP, como eu fiz, que colocou recursos na mão da população para ela decidir, quer que ela controle a ação do governo.
Articulei diversas vezes no TCE cursos para formar conselheiros do povo.
Quem fez isso não pode sofrer esse tipo de acusação sem prova.
Houve uma parcialização.
Parte do Ministério Público pode estar instrumentalizado partidariamente.
A gente ver isso.
Cada decisão que os promotores tomam, no outro dia tem panfletos, ação.
E são os mesmos grupos que se repetem ao longo de quatro anos.
JC - O prefeito João Paulo acha que há um movimento para desestruturar sua futura gestão.
COSTA - Desde a campanha, quando se viu que não podiam derrotar a gente, que se buscou o caminho da judicialização da política.
Há setores que querem trabalhar para que eu não termine meu mandato.
Até agora procuraram alternativas para chegar até a mim.
Em nenhuma o autor é João da Costa.
Todas foram ação de terceiros.
Acho que tem que se ter muita responsabilidade política, respeitar a vontade da população, a escolha do povo, e buscar, pela Democracia, retomar o Poder.
Passar quatro anos tentando, através de medidas judiciais, forçar a barra para tentar inviabilizar um governo que politicamente não venceu!
Eu até entendo uma certa aflição dos que nunca conviveram, por tanto tempo, fora do aparelho de Estado.
Deve estar faltando água para muita gente.
Mas eles precisam demonstrar que os valores democráticos que dizem defender se expressam na prática.
Ações de provocação a gente já conhece e sabe como responder.
JC - A postura do Democratas sinaliza que virá uma oposição mais forte ao seu governo?
COSTA - Qual o projeto do Democratas para a cidade?
Disseram que iam qualificar o debate na eleição, que o governo João Paulo só trabalhava para os ricos, uma oposição contrária à de quatro anteriores que dizia que João Paulo não tinha nenhuma obra de pedra e cal, só trabalhava para os pobres.
Isso se mostrou inconsistente.
Tem que se fazer oposição, mas se possível qualificada.
Qual é o projeto político e ideológico do Democratas?
A âncora ideológica dele está afundando.
Do ponto de vista ideológico eles estão órfãos.
Do ponto de vista político não têm um projeto nem para o País!
Então, às vezes, pode-se confundir o fazer uma oposição com provocações.
E isso a população já mostrou que não aceita.
Acho que certamente a oposição vai ser mais forte.
Só espero que ela seja qualificada.
JC - E 2010, o caminho natural de João Paulo será o Senado?
COSTA - Se a definição fosse hoje seria.
Todas as condições políticas estão criadas.
Há um entendimento nosso de que a candidatura ao Senado está madura.
Agora dois anos é muito tempo na política.
Vamos trabalhar para que esse cenário possa se manter.
Mas João Paulo é uma liderança consolidada, está preparado para contribuir com o nosso campo em qualquer cenário.