Por Terezinha Nunes Se há um exemplo das disparidades de renda e de níveis de desenvolvimento neste mundo de grandes distâncias entre pobres e ricos, esta realidade está estampada, com todas letras, cores e contrastes, sobre a Índia e Dubai.
A primeira, muito conhecida, a outra, a principal cidade dos Emirados Árabes.
A separá-las apenas três horas de avião.
Na Índia, um dos países que mais cresce no mundo – chegará aos 9% este ano mas está obrigado a sustentar 1 bilhão e 100 milhões de habitantes - quase tudo está por fazer.
Em Dubai nada falta.
Há sim, excesso.
A cidade, assim como a região onde está situada, crescerá este ano 7,8%.
Não se vê pobres, até porque estes estão proibidos de migrar para o local, dependendo de um visto de trabalho que com duração de três anos..
Depois disso têm que sair, ficar seis meses fora, e, só depois, receber novo visto.
Visitar, portanto, os dois locais, nos quais se realizou este ano a missão da Fecomércio, é algo impagável para quem pretende experimentar in loco os efeitos da pobreza e da riqueza entre dois povos tão próximos mas, ao mesmo tempo, tão distantes em níveis de vida.
A renda per capita na Índia é de US$ 3 mil por ano.
A de Dubai é de US$ 44 mil.
Toda a população de Dubai tem onde morar – e bem – e foi convertida em sócia de empresas estrangeiras que cada vez mais se instalam na cidade por força de lei rigorosamente cumprida que obriga cada um delas a ter 51% de capital nacional.
Dubai é o supra-sumo do artificialismo que só os dólares do petróleo, abundantes nos Emirados, podem sustentar.
Há obras em toda parte.
Edifícios cada vez mais altos – os mais altos do mundo, como se diz - se erguem sem parar em áreas que antes eram do mar e estão sendo aterradas dia a dia, no que talvez seja a mais cara obra de engenharia que está sendo realizada na terra.
Noventa por cento da água consumida é produto da dessalinização da água do mar – lá só chove durante quatro dias no ano – e as árvores e os gramados são mantidos por um rigoroso processo de irrigação por aspersão.
Se falhar por uma única semana, tudo se transformará em deserto, como era a apenas 30 anos.
A Índia é talvez, um dos países mais impressionantes de que se tem notícia.
Se no Brasil se diz que as favelas estão cada vez mais próximas da classe média e dos ricos nas grandes cidades, na Índia pode-se dizer, tal a quantidade de favelados, que é a classe média e os ricos que estão próximos das favelas.
Mais de 40% da população é constituída de analfabetos, os esgotos estão a céu aberto nas grandes cidades de mais de 15 milhões de habitantes, como Nova Déli, Mumbai e Calcutá.
Como contradição, mas também como expressão do crescimento econômico vivido por aquele país, há 300 milhões de indianos compondo uma classe média que corresponde a uma vez e meia a atual população brasileira.
O mais intrigante de tudo é que se a Índia é um país dos mais ricos do mundo em cultura e com uma história que já tem 4 mil anos, o que atrai cada vez mais turistas,em Dubai, ao contrário,a única expressão do que era o local antes do atual boom de crescimento, é um museu que mostra como viviam os beduínos no deserto.
Outro sintoma da disparidade.
A opulência de Dubai, onde os indianos estão empregados aos milhões como peões de obra que ganham US$ 500 dólares por mês e são submetidos a um exigente controle migratório, é mantida pelo petróleo consumido em todo mundo, inclusive nas cidades indianas.
A Índia que produz muito mas ainda muito pouco para suas necessidades, ajuda a manter Dubai.
A Índia, porém, tem o futuro que a história e a cultura lhe garantem.
Dubai é um incógnita.
Se faltarem ou escassearem os recursos do petróleo volta a virar deserto.