Por Renato Lima, de Economia / JC A crise mundial vem afetando vários projetos que já foram anunciados para Pernambuco.

Os dois maiores da nova leva – a siderúrgica e a montadora de automóveis – ficaram com pequenas chances de serem efetivados.

Outros terão que ser reprogramados e soferão atrasos.

No caso da siderúrgica, os anos de crescimento acelerado até o início desta crise forçaram um investimento forte no setor.

Mas, depois dos bancos, este foi o ramo mais afetado.

Isso porque o preço do aço vinha subindo constantemente, estimulados pelo crescimento mundial.

Apenas neste governo, três projetos siderúrgicos foram anunciados.

Primeiro foi a do grupo espanhol Añon (investimento previsto de US$ 150 milhões), que depois sofreu uma modificação societária.

Ainda se anunciou a Gerdau, num plano de US$ 600 milhões e, por fim, uma complexo gigante da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que chegaria a até US$ 6 bilhões.

Agora, a reversão na siderúrgica foi total.

Mundialmente, as empresas do setor deixarão de investir US$ 200 bilhões em expansões programadas.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia, com dados para outubro deste ano, a produção acumulada do Brasil estava em 29,7 milhões de toneladas de aço.

Mas a crise bateu e as montadoras de automóveis - que consomem muito aço - começaram a dar férias coletivas para reduzir a produção.

O crédito ficou escasso e muitos projetos de investimento, que demandariam mais aço, ficaram postergados.

Há hoje um excesso de produção mundial - apenas a produção de aço da China em um mês é maior do que a do Brasil durante todo o ano.

E a economia chinesa também começa a desacelerar.

O Brasil conta com 25 usinas.

No caso da CSN, o investimento não chegou nem a ser oficializado pela companhia.

Apesar de uma apresentação no Palácio do Campo das Princesas, a empresa não emitiu um fato relevante para os seus acionistas informando que estava decidida a fazer tal investimento - como manda a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O economista Alexandre Rands, da consultoria Datamétrica, é cético quanto a esse projeto. “Com a crise, a siderúrgica da CSN não vem e o projeto das plantas petroquímicas da Citene atrasam.

Mas vamos ter, principalmente, o adiamento de projetos que nem foram anunciados, mas que estariam na cadeia da indústria naval e petroquímica”, acredita.

Ele também não crê mais na consolidação de uma montadora da General Motors, como chegou a ser falado pelo governo.

A perspectiva de crescimento caiu bastante e, na matriz, a montadora ficou tão quebrada que só se socorreu com um pacote de ajuda governamental.

Apesar das evidências, o secretário de Desenvolvimento Econômico Fernando Bezerra Coelho mostra otimismo. “O cenário é complicado para esse segmento, mas, na conversa com os empreendedores da CSN, eles mantêm a decisão de continuar com o investimento”, afirmou.

Segundo ele, o grupo também estaria em contato próximo com o BNDES fazendo uma estruturação financeira.

Rands, entretanto, lembra que a frustração desses dois grandes projetos, da CSN e GM, não podem ser revertidos por uma decisão de governo.

O Estado criou uma série de incentivos fiscais, mas o problema é mesmo de mercado mundial.