Deu na Veja desta semana Há três meses, a Polícia Federal e o Ministério Público averiguam a participação clandestina da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na operação que investigou o banqueiro Daniel Dantas.
Já existe consenso entre as duas instituições de que a ação dos espiões oficiais foi ilegal.
O que as autoridades não sabem ainda com precisão é a dimensão das irregularidades.
Na semana passada, o agente Márcio Seltz, um dos mais de oitenta arapongas envolvidos na operação secreta, enviou uma carta à CPI dos Grampos para retificar uma declaração em seu depoimento.
Ele afirmou que, ao contrário do que dissera, manipulou grampos telefônicos de jornalistas e que os áudios das gravações foram repassados ao então diretor da Abin, delegado Paulo Lacerda.
O agente não esclarece a maneira como foram obtidas as interceptações das conversas dos jornalistas – se por meios legais ou não.
Apenas recebeu o material, analisou-o e o entregou ao chefe.
O ex-diretor da Abin foi afastado depois que se descobriu a atuação clandestina de seus espiões, que grampearam ilegalmente os telefones de políticos, jornalistas e autoridades, entre as quais o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes.
Indagado a respeito na CPI, Paulo Lacerda mentiu ao Congresso.
Disse que a atuação de seu pessoal se limitou a uns poucos arapongas, acionados informalmente apenas para checar endereços, e que ele nem sequer sabia dos detalhes da operação.
O depoimento do agente Seltz mostra que Lacerda, além de acompanhar tudo, era o guardião do material produzido.
O que será que o ex-chefe do serviço de espionagem do governo faz com os arquivos de áudio que recebe?
J.
Edgar Hoover, o lendário ex-diretor do FBI, a polícia federal americana, tinha um imenso arquivo de gravações telefônicas ilegais que usava para chantagear adversários do governo.
Seus biógrafos escreveram que ele fazia tudo com o consentimento da Presidência da República.
Hoover ficou 48 anos e oito presidentes no cargo.
No Brasil, Paulo Lacerda, que comandou a Polícia Federal até o ano passado, deixando uma folha de excelentes serviços prestados ao governo, foi afastado temporariamente da Abin pelo presidente Lula, mas já contou a amigos que voltará ao cargo no fim das investigações.
Não se sabe a origem de tamanha convicção.
Sobre os grampos entregues pelo agente Márcio Seltz, Lacerda reafirmou que desconhece o assunto.
Ele nunca viu, ouviu ou guardou gravação alguma.