Caro Jamildo.

Envio-te esta carta em função da cobertura ampla feita por você na ocasião da greve dos médicos em nosso estado.

Durante todo processo, lembro-me das entidades médicas reivindicando sua função social como superior à mera discussão salarial ou corporativa.

Então, neste momento, observo uma situação até o momento não divulgada ou refletida publicamente.

No sábado, por ocasião da morte da senhora Aurinete, assassinada (o nome é este mesmo) por um elemento alcoolizado e armado de uma caminhonete de luxo em pleno bairro de Boa Viagem.

Na ocasião a embriaguez foi confirmada, assim como o depoimento de testemunhas atestando o desrespeito ao sinal de trânsito.

Isso sem levar em conta o evidente excesso de velocidade.

Porém este problema é de conhecimento geral e de responsabilidade do agente público de segurança e do poder judiciário.

Mas onde entra a questão das entidades médicas?

As mesmas, sobretudo o CREMEPE, por motivos que dizem respeito à responsabilidade social a qual eles assumem, são vistos em discussão de direitos humanos, administrações públicas, SUS, ética profissional, entre outras.

Não é novidade nenhuma que essa “estadia” do rapaz no Hospital Português é, no mínimo, suspeita.

Num caso destes, não seria o caso de uma “visitinha” do CREMEPE ao Hospital para averiguar se a prática médica não está servindo de cobertura para um criminoso?

Isso, pelo menos, diz respeito à prática médica.

Uma pessoa que saiu andando normalmente, de um carro com air-bag extremamente eficiente, chegou rindo à delegacia.

Num país como o nosso, o mínimo que uma entidade que “defende o cidadão” poderia fazer é apurar.

Senão o CREMEPE, por uma questão de solidariedade, o COREN poderia fazer o mesmo.

A senhora Aurinete era uma enfermeira.

Caros profissionais, vale a pena lembrar que a nossa responsabilidade primeira é social.

Tanto pela função privilegiada que possuímos, quanto pelo grau de esclarecimento por nós adquirida em anos de estudo.

A consolidação dos valores éticos não se dá apenas na alegoria do discurso.

A prática ética se dá de forma extremamente dolorosa e, muitas vezes, é constituída cortando-se determinadas atitudes na “própria carne”.

Caso o Hospital Português e o serviço dos profissionais em saúde envolvidos no caso deste rapaz, estejam fazendo uso de sua estrutura e conhecimento para proteger uma pessoa deliberadamente, os mesmos deveriam ser também incriminados como cúmplices ou por obstrução da lei.

Não estou, de maneira alguma, afirmando a conivência, entretanto, num caso como este a suspeita deve ser levantada e nada como as entidades comprometidas à ética de seus profissionais para averiguar a prática adotada.

Muito obrigado, Eduardo Cidadão do Recife e leitor atento do Blog de Jamildo