Por Carolina Leão No Recife, os ares de modernidade foram implementados com a urbanização dos anos quarenta e cinquenta, na qual se sobressai a construção de edifícios na beira-mar de Boa Viagem.

A modernidade dos edifícios, porém, não ultrapassou a idéia.

São eles operacionais, sim, mas lhes faltam os índices estéticos de uma arquitetura do estilo.

A vanguarda, porém, não é apenas forma. É ideologia. À uma nova sensibilidade ideológica, o Recife começa agora a corresponder colocando-se à frente das grandes cidades brasileiras, onde é clara, por exemplo, a distinção entre obras modernistas e pós-modernistas em arquitetura e urbanismo – caso do bairro carioca Barra da Tijuca, composto de apartamentos de luxo e alto luxo repletos de decoração kitsch e multi-informação visual.

O novo conceito de bem morar, criado pelas principais construtoras imobiliárias da região, nocauteia a idéia que se tinha, até então, acerca das inúmeras possibilidades de moradia funcional.

Dentro da perspectiva de uma nova cidade, que prioriza a economia de tempo e maximização do gozo, encontra-se o Evolution Shopping Park, empreendimento cujo lançamento anuncia uma outra dinâmica através da qual a cidade do Recife deverá se movimentar nos próximos anos.

Esqueçam as mansões de Casa Forte, com seus resquícios da cultura de engenho, e as coberturas da Avenida Beira-Mar, amplas e vistosas.

Esqueçam também as quadras de tênis e mesas de totó, que vinham como bônus dos recursos poliesportivos, nos edifícios de alto luxo.

Esqueçam os salões de festas equipados e as piscinas semi-olímpicas.

As TVs a cabo; o parquinho do play.

Todos os itens de luxo de um grande complexo imobiliário se tornaram obsoletos diante dessa empreitada.

São cinco torres residenciais ladeadas por uma mega área de lazer, inspirada nas dependências externas dos resorts nordestinos.

Clima de praia em pleno caos urbano.

Hiper-real para quem pode desembolsar mais de meio milhão de reais, em prestações mensais que chegam a mais de dez salários mínimos.

Os eleitos vão entrar para a história do urbanismo em Pernambuco marcando, enfim, uma nova configuração metropolitana.

Mudam-se os castelos e seus reis.

O Evolution segue o conceito de easy life: funcionalidade de hotel em plena moradia urbana.

O condomínio conta com empresas terceirizadas que fornecerão serviços diversos, do utilitarista ao supérfluo, aos seus moradores.

Lavanderias, pet shop, encanador, eletricista, personal trainer, car wash e massagem, estão entre eles.

Ficar em casa nunca foi tão fácil.

A casa, que na modernidade fôra lugar de passagem, volta a ser refúgio social, como, olha aí, nos tempos do castelo.

Com o crescimento da violência urbana, a cultura do flâneur nunca esteve longe da memória.

PS: O texto completo da doutora em sociologia da UFPE, Carolina Leão, estará no Pernambuco, que circula sexta.