Da Veja desta semana O barril de petróleo cotado abaixo dos 50 dólares no momento em que o mundo passa por uma recessão é, para a indústria petrolífera, como a combinação dos fenômenos climáticos que causam as grandes tempestades.
Pode não ser um desastre, mas é melhor se proteger.
A receita das empresas cai no momento em que fica mais escasso o crédito internacional para financiar novos projetos.
A queda no ritmo da economia mundial faz, a médio prazo, com que o mundo passe a consumir menos petróleo.
Enfim, são obstáculos colocados pela crise em um terreno que há bem pouco tempo parecia uma pista de decolagem rumo a um futuro glorioso.
A Petrobras, maior empresa brasileira e 25ª no mundo, está no meio dessa tormenta.
O valor de suas ações caiu mais de 40% desde o início de outubro até a semana passada.
O preço do petróleo despencou 37%, na média mensal.
E o dólar saltou de 1,70 real para 2,50 reais, o que é uma fonte de incertezas para uma empresa brasileira.
Com todo mundo em pânico, chamou atenção o empréstimo de 2 bilhões de reais tomado às pressas à Caixa Econômica Federal. É normal que uma empresa como a Petrobras se financie com bancos brasileiros ou estrangeiros.
Mas, ao explicar a operação, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, presidente do conselho de administração da companhia, referiu-se a “problemas de liquidez”, o que aguçou os sentidos dos analistas do mercado financeiro.
O que houve, segundo o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, foi uma coincidência da subida repentina do dólar no momento em que a empresa teve de pagar 11 bilhões de reais em impostos como royalties e participações especiais (o valor que se paga pelo excedente de produção de um campo petrolífero).
E tudo isso quando o mercado financeiro mundial está em retração.
Os analistas não acreditam que uma companhia como a Petrobras, cuja avaliação pelas empresas de risco é até melhor do que a do Brasil, tenha problemas para se financiar, mesmo com o mundo passando por um enorme problema de crédito.
Daí o ruído causado pela declaração da ministra e a incerteza a respeito do impacto que a crise terá sobre a empresa.
O petróleo na casa dos 45 dólares está abaixo do que se considera o limite para que a operação do pré-sal seja viável, o que não quer dizer que os testes serão paralisados. “Não temos dúvida de que a exploração ali é sustentável até 40 dólares.
O que não sabemos é quanto ao valor para a produção.
Essa é a dúvida”, afirma Gabrielli.
Ou seja, com o barril a esse preço, podem-se mapear as reservas já descobertas do pré-sal, mas talvez não seja possível tirar o petróleo de lá.
Outra incerteza que ronda a empresa é sobre os mais de 600 projetos em andamento. “O que posso dizer é que os investimentos de 2009 até 2013 serão maiores do que o do planejamento anterior.
Só não sabemos que projetos estarão nele e quais vão sair”, diz Gabrielli.
Isso significa que a Petrobras investirá mais de 112 bilhões de dólares nos próximos cinco anos e que a construção das refinarias pode, sim, ser adiada. É natural a preocupação com a Petrobras.
A empresa é responsável por 86% de todo o investimento feito pelas estatais brasileiras.
Sua verba de investimentos equivale a 35% do Programa de Aceleração do Crescimento.
A Petrobras é a rainha no tabuleiro em que o governo Lula joga o xadrez da sucessão presidencial.
Quando o senador Tasso Jereissati subiu à tribuna do Senado para denunciar a possível irregularidade na concessão do empréstimo da Caixa, mexeu em vespeiro.
Gabrielli acusou-o de estar sendo irresponsável. “Se a empresa estivesse mesmo mal de caixa, o que pode acontecer a qualquer companhia do mundo numa situação dessas, teria quebrado”, disse.
A reclamação de Gabrielli é compreensível, assim como as desconfianças da oposição.
O uso que o governo federal faz da empresa deixa margem a muitas dúvidas sobre o que pode estar acontecendo.
No início do governo Lula, os sindicatos tomaram o poder na estatal. “É verdade que as indicações para a diretoria sempre foram políticas, mas neste governo até as gerências são escolhidas dessa forma”, afirma um ex-executivo.
O resultado foi o inchaço de 38% do quadro de pessoal.
A empresa não desmente os números, mas contesta a sua interpretação.
Afirma que foi necessário para a expansão da companhia.
Seja como for, a dificuldade será enfrentar a nova realidade com o preço despencando, o dólar subindo ao maior valor desde 2005 e o mundo quebrando.
Esse pessoal, além de numeroso, terá de ser muito bom.