As ONGs católicas que lutam contra a transposição, se tivessem no Palácio do Campo das Princesas, ontem, teriam um ataque de nervos com o discurso de Lula em favor da transposição do São Francisco, polêmico projeto que os petistas e socialitas boicotaram no governo FHC.

Aproveitando a presença de prefeitos de vários estados, Lula deu seu recado.

Primeiro ele tratou da divisão dos Estados. “Bahia, Sergipe e Alagoas eram contra, Pernambuco, Paraíba e Ceará a favor.

Desempatei decidindo em favor da causa nobre”.

Lula esqueceu de somar o Rio Grande do Norte, como o Piauí que também eram a favor das obras hídricas, como beneficiários.

Ignorou também as Minas Gerais do seu vice-presidente.

A principal revelação, no entanto, foi a inspiração do presidente para tomar a decisão.

Segundo o presidente, ele estava no Canadá, olhando a neve, quando tomou a decisão de encampar o projeto. “Não vi ninguém reclamando da neve.

Eles aprenderam a conviver com a neve.

No Nordeste, sempre se dizia que era preciso acabar com a seca, mas, na verdade, era necessário estabelecer uma política para conviver com a seca” No que pode ser interpretado como uma provocação aos donos da solitariedade, Lula invocou o despreendimento que algumas igrejas professam. “Como não nos foi dado o direito de fazer chover, tomamos emprestado um tiquinho de água de Minas, Bahia, Sergipe para dar a quem tem sede”.

No mesmo discurso, Lula já disse que até 2010 pretende inaugurar parte do projeto.

No que parece uma bravata, Lula disse que chamou logo um baiano, o ministro Geddel Vieira Lima, para tocar a obra.

Na verdade, todo o principal trabalho foi realizado pelo ex-ministro Ciro Gomes, do Ceará, que pagou um alto preço nas eleições presidenciais por defender a obra.

No Recife, o ex-ministro chegou a admitir que perdeu importantes votos por conta da obra, por ser vítima de campanha contrária na Bahia.

Na reeleição, para não perder votos, Lula simplesmente sepultou o tema.

O projeto não ainda como prometido, mas Lula deixou transparecer que planeja ser lembrado como o imperador Dom Pedro. “Alguém (ele) vai cumprir o que Dom Pedro tentou 200 anos atrás, um canal para levar água para quem não tem”.