De Cidades / JC O Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, será o endereço dos cearenses Antônio Ferreira da Silva, 65 anos, Zé Grande dos Santos, 63, e Alzenete Maria Nunes, 63, até o próximo dia 8, quando termina a 104ª Festa de Nossa Senhora da Conceição.
Eles viajaram 12 horas de ônibus e desembarcaram no santuário às 7h da última segunda-feira.
Porém, nenhum é romeiro.
Os três são pedintes e se deslocaram de Juazeiro do Norte até a capital pernambucana em busca de esmolas.
Antônio, Zé Grande e Alzenete embarcaram num ônibus que costuma levar mendigos de Juazeiro do Norte para santuários religiosos em cidades brasileiras: Bom Jesus da Lapa (BA), Canindé (CE), Morro da Conceição e Palmas (TO).
Em cada retorno, precisam pagar R$ 100 à pessoa que organiza a viagem. “Ano passado vim ao Recife pela primeira vez.
Não juntei nem o dinheiro do ônibus.
Fiquei devendo R$ 30, que paguei com o apurado de outra viagem, a Bom Jesus da Lapa”, conta Antônio Ferreira.
Eles não sabem informar o nome da pessoa que organiza as peregrinações com mendigos. “É uma mulher, vendedora no horto do Juazeiro.
Ela aluga o ônibus e sai de casa em casa chamando os pedintes”, diz Alzenete Maria, que faz sua terceira viagem ao Morro da Conceição. “Não lembro quanto consegui apurar no ano passado.
Mas sei que paguei o ônibus e ainda sobrou para fazer uma feira em casa.
Também levei comida que ganhei de devotos da santa”, diz Alzenete.
Enquanto aguardavam a caridade dos pernambucanos, ontem, os três contaram que dormem ao relento, ao lado de uma barraca de ambulante, no Morro. “A mulher que organiza a viagem alugou uma casa aqui, por uma semana.
Quem se hospeda, paga mais R$ 100.
Fica muito caro, por isso é melhor dormir na rua.
Assim, a gente só vai trabalhar para ela.
Camelôs de Juazeiro que vieram no mesmo ônibus, para vender imagens de santos no Morro, usam a casa”, afirmam Alzenete e Antônio.
Ela mora com quatro netos em Juazeiro do Norte e ele vive só.
Com uma cicatriz profunda no pé direito, Zé Grande revela que trabalhava numa pedreira, mas deixou o serviço após sofrer acidente. “Uma pedra caiu em cima do meu pé.
Hoje, vivo de pedir. Às vezes, meus filhos me dão alguma coisa”, declara. É a segunda vez que ele vem ao Morro da Conceição.
Eles compram lanches com o dinheiro e gastam R$ 1 real por dia para tomar banho.
Em agosto (Senhor Bom Jesus) e setembro (Nossa Senhora da Soledade), eles são encontrados em Bom Jesus da Lapa.
No mês de maio, estão no Santuário de Fátima, em Palmas.
Em outubro (São Francisco), rumam para o Santuário de Canindé. “Os mais generosos são os romeiros de Bom Jesus da Lapa.
Lá é certeza, podemos ir sem medo”, destacam.