Por Luciano Siqueira Parece aquela história que a gente ouvia quando criança.

A do garoto que ao retornar da escola, costumava simular que era atacado por um lobo, pedindo socorro, oculto por trás de uma moita - para em seguida, quando atendido pelos colegas, divertir-se por ter enganado a todos.

Até que um dia, atacado de verdade, não houve que o socorresse.

Para tudo se aplica a expressão crise, a ponto da palavra quase perder força e sentido.

De modo que a atual crise financeira mundial, que se arrasta há mais de um ano e agora parece atingir seu ápice (se não vier coisa pior ainda pela frente), ainda não é apreendida em toda a sua dimensão e significado.

Na sua essência e quanto às repercussões mundo afora, incluindo o Brasil. É precisamente este o tema de um debate que ocorrerá hoje à noite, a partir de palestra do médico e mestre em economia Sérgio Barroso, alagoano radicado em São Paulo, ativo participante de círculos de especialistas que monitoram a economia mundial.

O secretário das Cidades, Humberto Costa, e esse amigo de vocês, atuaremos como debatedores.

A reunião é aberta ao público e acontecerá no auditório do SINTEPE (Rua General José Semeão, 39 – Santo Amaro, próximo à Universidade Católica), a partir das 19 horas.

A intenção é perscrutar a real natureza da crise atual – que além de sistêmica, guarda relação conceitual com o fenômeno cíclico do capitalismo, tão exaustivamente analisado por Karl Marx e muitos outros estudiosos, porém assume conotações, digamos, contemporâneas.

Dentre as suas particularidades atuais, a inversão de papéis que a vida haverá de confirmar, ou não, a médio prazo.

Oriunda dos EUA, a maior potência econômica global, atinge duramente os demais países capitalistas centrais (já mergulhadas na recessão) e encontra melhores condições de sobrevivência em países periféricos emergentes.

A China, a Índia, a Federação Russa e mesmo a África do Sul e o Brasil figurariam nessa condição.

Afetados, sim; mas potencialmente credenciados a fazerem bom uso da crise como oportunidade.

Ora, se assim as coisas acontecem, uma conseqüência igualmente em médio prazo quem sabe possa ganhar força uma tendência à superação da atual ordem unipolar (sob hegemonia absoluta dos EUA) por uma nova ordem, multipolar, na qual blocos inspirados na autodeterminação e em projetos de desenvolvimento nacionais, como o que se forma no subcontinente sul-americano, encontrem condições de se afirmarem.

No quadro de uma nova ordem assim desenhada, nosso país teria tudo para se consolidar como nação independente, próspera, democrática e influente.

PS: Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve todas às quartas-feiras no Blog de Jamildo.