Do Blog de Josias de Souza Em reunião realizada no Planalto na última quarta (19), o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) expôs a Lula novas previsões para 2009.

Teriam de ser remetidas ao Congresso.

Substituiriam dados que o governo anotara no Orçamento que elaborara em agosto, antes da supercrise global.

A certa altura, Bernardo levou à mesa uma estimativa de crescimento da economia para o próximo ano: 3,5% (a cifra de agosto era 4,5%).

Antes, em público, o ministro falara em 3,8%.

Em privado, técnicos do Planejamento haviam estimado o PIB de 2009 em algo entre 3% e 3,2%.

Lula espantou-se com o negativismo.

Avaliou que, adotando os 3,5% de Bernardo, o governo injetaria pessimismo num mercado que já traz o pé no freio.

O presidente determinou a Paulo Bernardo que, em vez de 3,5%, anotasse na reprogramação orçamentária endereçada ao Congresso um PIB de 4%.

Lula não estava só.

Presente à reunião, o ministro Guido Mantega (Fazenda) também torceu o nariz para os 3,5% de Bernardo.

Agarrou-se aos 4%.

Fez lembrar o Mantega de novembro de 2003.

Ocupava à época a pasta do Planejamento.

Opunha-se a Antonio Palocci, então titular da Fazenda.

O governo lidava na ocasião com números mais modestos.

Palocci previra que o PIB de 2003 fecharia em 0,4%.

Mantega apostara em 0,8%.

Numa entrevista, explicara as suas razões: “Eu não derrubo, só levanto o PIB”.

Três meses depois, em fevereiro de 2004, o IBGE revelaria: nem Palocci nem Mantega.

A economia brasileira anotara em 2003 uma retração de 0,2%.

A conjuntura atual parece conspirar, de novo, contra Bernardo e também contra a dupla Lula-Mantega, os levantadores de PIB.

A retração mundial puxa o PIB do Brasil para baixo.

A Comissão de Orçamento do Congresso trabalhava com índices inferiores a 3%.

O “PIB político” de Lula causou um misto de estranheza e espanto.

Os congressistas poderiam ajustar a taxa à realidade.

Mas é improvável que o façam.

Soariam mais realistas do que o rei.

Assim, o debate de Brasília serve apenas para expor, uma vez mais, os meandros da quiromancia econômica que guia as previsões dos governos.

De todos os governos.

Em relação ao PIB, a macumba funciona assim: no final do ano, leva-se à encruzilhada do Orçamento uma galinha gorda: crescimento de 4% para o ano seguinte, por exemplo.

Ali pelo meio do ano, regateia-se o índice e a galinha vira um frango: 3,5%.

Em dezembro, troca-se o frango por um pinto e anuncia-se o PIB não atingirá os 3%.

A essa altura, o Congresso já estará debruçado sobre o Orçamento do próximo ano.

Que trará outra galinha gorda: 4%.

Quiçá mais um pouco.

O vaivém parece irrelevante.

Mas não é.

Numa conta grosseira, cada décimo de ponto percentual de crescimento do PIB corresponde à criação de algo como 30 mil postos de trabalho. É disso que se trata.