Por Edilson Silva Não há como negar que aconteceram avanços importantes no combate ao racismo no Brasil nas últimas décadas.

A organização e a luta do povo negro foram e são os responsáveis diretos por estes avanços, ao colocar o tema da discriminação racial na pauta do país, alcançando resgatar parte da cultura e da história dos afro-descendentes no Brasil, como a memória de Zumbi e seu combate sem tréguas contra a escravidão em Palmares.

Esta luta segue seu curso, com a colocação na pauta do critério de cotas para afro-descendentes nas universidades públicas, assim como no combate à intolerância contra as religiões de matriz africana.

Estes são temas caros para o povo negro no Brasil e em outros países, e devem ser levados adiante por todos aqueles que lutam contra o racismo e suas conseqüências.

No entanto, apesar destas pautas serem imprescindíveis na afirmação dos direitos e da cidadania dos afro-descendentes brasileiros, é preciso reconhecer que estas pautas são insuficientes para alcançar estes mesmos direitos e esta mesma cidadania.

Alguns dados demonstram isto com nitidez.

Enquanto a partir da década de 1990 se percebeu uma afirmação simbólica maior dos negros e negras na sociedade brasileira, com revistas especializadas e voltadas exclusivamente para a população negra, maior aparição em comerciais de TV e novelas, revelando uma pequena, mas sensível inflexão no padrão estético vigente, além dos já mencionados resgates históricos e culturais e a colocação das cotas raciais na pauta do país, assistimos a população carcerária triplicar em estados como São Paulo durante a mesma década de 1990, realidade que se refletiu de alguma forma nas principais metrópoles do país.

Na mesma década, assistimos a um avanço vertiginoso do número de favelas e habitações subnormais nestas metrópoles.

As populações carcerárias e das favelas no Brasil são majoritariamente negras.

Esta contradição revela mais uma vez que as demandas do povo negro no Brasil são de ordem cultural e também material, e que ambas são indivisíveis quando tratamos de resgatar plenamente a dignidade humana desta população.

Os negros e negras, além de respeito à sua história e às suas culturas, precisam de trabalho, educação, saúde, moradia e acesso à cultura, pois, além de pertencerem a um grupo étnico historicamente discriminado, pertencem majoritariamente a uma classe social excluída da repartição da riqueza produzida coletivamente pela nação.

Neste mês da Consciência Negra, reestabelecer esta reflexão, que anda meio perdida em tempos de PT no poder, é fundamental.

Os afro-descendentes também têm demandas de classe, que exigem reformas profundas no regime político, no sistema econômico, no mundo do trabalho, nos sistemas de ensino e de saúde.

Sem combinar as demandas de raça e de classe, a tarefa de colocar a discriminação racial em patamares desprezíveis estará sempre incompleta.

PS: Silva é presidente do PSOL/PE e escreve toda sexta-feira no Blog de Jamildo