Por Araken Almeida Recentemente, eclodiram de forma lastimável em todos os aspectos, as mazelas da saúde pública e do médico.

Desnecessário comentar a previsibilidade de tal fato.

Nos últimos anos, quase todas as instituições públicas de saúde, juntamente, com quase todos os profissionais de saúde nelas envolvidos, (principalmente os médicos urgentistas) permaneceram trabalhando em condições sub-humanas e constrangedoras (empilhamento de pacientes em corredores e ressuscitação cardiorespiratória em pacientes deitados no chão), administrando sob desvios de verbas, atrasos de pagamentos aos fornecedores, além da ausência de controle das despesas.

Tudo isto, como não poderia deixar de ser na administração pública, ao lado tenebroso da corrupção (sangue-sugas, máfia das ambulâncias, licitação fraudulenta, etc.) e, dos salários defasados dos seus servidores.

Nesta área, deu-se e ainda dá-se um jeitinho onde não se pode dar, fez-se e ainda faz-se de conta onde não se pode fazer, imperou e ainda impera a insensibilidade política e a angústia dos profissionais de saúde.

Diante de tanta ignomínia, o resultado só poderia ser o que atualmente estamos constatando: o sucateamento da saúde pública, impotência dos médicos diante do caos e o tratamento desumano prestado aos pacientes (às vezes culminando em óbitos evitáveis).

Isto tudo ocorrendo, sob a batuta de autoridades ineptas (algumas solidárias?) que nada devem à criação imortal do nosso humorista Péricles, usando os mais pobres para sensibilizar a opinião pública e solicitando colaboração à classe médica que recebe como salário o equivalente a 25% do que recebe um procurador do estado e 50% do que recebe um oficial de justiça.

Ressalte-se: Às vistas de uma população tolerante e complacente.

Pode-se dizer que todos nós colaboramos, crônica e insidiosamente, para este desfecho que ora vivenciamos e, para o qual, não teremos soluções em curto ou médio prazo.

O nosso sistema único de saúde (SUS), que deveria ser universal e prestar um atendimento de qualidade conforme a Constituição, vem promovendo filas intermináveis de doentes que pernoitam ao relento para marcar uma consulta não sabendo para quando, atendimentos a pacientes graves em corredores de hospitais, faltas de leitos em UTI, falta de seriedade no controle de medicamentos imprescindíveis e a manutenção de reduzido número de profissionais pagos com salários aviltantes.

Diante disso, a classe trabalhadora (leia-se médicos) regida por sólidos princípios éticos, generosidade nata e ingenuidade financeira, viu-se postada na sarjeta da indignidade pecaminosa e da humilhação terrificante trabalhando em condições dantescas, decidindo quem deve morrer (escolha de Sofia) nos serviços de emergências.

Tudo isto, largamente mostrado e denunciado pela mídia.

Agora, sob a ameaça de autoridades que “nunca antes na história deste país”, moveram uma palha para melhorar o atendimento à saúde da população que mais sofre (os pobres) e as condições salariais e de trabalho daqueles que zelam e promovem a saúde dos cidadãos.

Nestas circunstâncias, o conflito, a intransigência, o prejuízo social e o desgaste profissional, permanecerão até quando a lógica e o bom senso de todos mostrarem que, saúde, atividade médica e seres humanos enfermos, devem ter tratamento diferenciado.

Portanto, toda a Sociedade, através de suas instituições, deve promover condições de trabalho dignas e salários justos para aqueles que cuidam do maior patrimônio do ser humano: a saúde.

Finalmente, lembramos o que disse Edmund Burke: “há um limite depois do qual a tolerância deixa de ser uma virtude”.

Arakén Almeida é leitor atento do Blog de Jamildo