Por Edilson Silva Enquanto uma brutal crise financeira vai derretendo o neoliberalismo e o mundo vai se acostumando com a idéia dos Obama na Casa Branca, no Brasil um capítulo importante da nossa República vai se desenrolando em meio a uma densa cortina de fumaça: o enredo da operação Satiagraha, da Polícia Federal.
A cortina de fumaça, produzida e alimentada pela grande mídia, faz parte do mesmo enredo.
Em quatro anos de operação, a Satiagraha viu vários delegados da Polícia Federal desistirem das investigações no meio do caminho.
A razão das desistências está clara.
A operação investigava nada menos que Daniel Dantas, controlador do banco Opportunity, figura que, tudo indica, é o PC Farias que deu certo, com todas as implicações que possamos imaginar.
Se o PC que deu errado derrubou um presidente e acabou assassinado, o que esperar do que deu certo?
O troca-troca no comando da Satiagraha tomou outro rumo com a chegada do delegado Protógenes Queiroz, coincidentemente no último dos quatro anos da operação que culminou com a prisão de Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta, além de outros envolvidos, em julho deste ano.
Protógenes, pelo seu histórico, não é de deixar trabalho incompleto e é acostumado a debulhar casca grossa.
Foi ele quem comandou as investigações e pôs fim à impunidade e às atividades criminosas do ex-deputado e esquartejador Hildebrando Pascoal e seu bando; do contrabandista chinês Law Kin Chong; do ex-governador Paulo Maluf; e do russo Boris Berezovski, desmantelando a organização que ligava a MSI ao Corinthians.
Ao trombar com Dantas e sua influência nos altos escalões da República, Protógenes não recuou.
Enfrenta agora o STF, que segundo o ex-ministro da justiça, Fernando Lira, em entrevista à imprensa, atua como se fosse advogado de Daniel Dantas.
Enfrenta a cúpula da Polícia Federal, sob o comando de um diretor que é conhecido como “homem de José Dirceu”, a mesma cúpula que lhe tirou todas as condições para seguir com suas investigações sobre Dantas, não logrando êxito em parar-lhe.
Enfrenta o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro.
Enfrenta também a grande mídia, que trata o assunto como se fosse uma mera disputa interna na Polícia Federal.
De investigador, Protógenes passou a investigado.
O juiz federal Fausto de Sanctis, que despachou as ordens de prisão contra Dantas, também é intimidado publicamente.
Em sintonia com o enredo, Daniel Dantas é sutilmente colocado como vítima de métodos ilegais de investigação.
Seus advogados estão ensaiando ir direto ao STF (porque será, Fernando Lira?) para invalidar toda a Satiagraha e suas conclusões.
A sociedade brasileira está sendo levada a discutir somente os métodos utilizados na Satiagraha para obter as provas contra Daniel Dantas e sua quadrilha, deixando de lado o mérito dos crimes comprovadamente cometidos pelos investigados.
Tudo indica que o mérito dos crimes conduz aos corredores e salas do poder.
A sociedade brasileira, a exemplo do que fez acertadamente o ex-ministro Fernando Lira, precisa se posicionar pela transparência na divulgação dos crimes cometidos por Daniel Dantas, pelo seu julgamento e prisão, e solidarizar-se com o delegado Protógenes Queiroz, cuja única irregularidade que cometeu foi ser um policial implacável, desvendando um bilionário esquema criminoso que envolve altos escalões da República.
PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE