A geração Obama no Brasil Por Vinicius Torres Freire Barack Obama, 47, iniciou a vida adulta nos anos da restauração conservadora.

Saiu da faculdade em 1983 e entraria na escola de direito de Harvard em 1988.

Definir gerações é arbitrário, mas alguns arbítrios fazem sentido.

Em 1978, Karol Wojtyla tornou-se o papa.

Em 1979, Thatcher tornou-se primeira-ministra do Reino Unido.

Reagan tomou posse em 1981.

Mitterrand assumiu na França em 1981 com o programa comum da esquerda francesa: estatais, salário mínimo maior, férias de cinco semanas etc.

Fracasso.

Em 1983, deu para trás.

Em 1984-85, Thatcher peitou a greve dos mineiros, que ficaram a ver navios e foram chamados de “inimigo interno” e de “perigo para a liberdade” pela primeira-ministra.

O período não foi de restauração conservadora devido à derrota da esquerda decrépita ou à vitória liberal, mas porque então disseminou-se o cinismo político e entrou em coma a idéia de políticas alternativas.

O que sobreveio à restauração no centro do mundo foi a gestão do status quo, com o verniz da terceira via (Clinton, Blair).

No Brasil, reforma liberal e terceira via chegaram no mesmo pacote, aberto por FHC.

Sob Lula, a história de décadas de degradação da esquerda foi vivida em ritmo acelerado -o mal que o PT fez à esquerda vai durar uma geração, se não for definitivo.

Do outro lado, sobrou José Serra, além do “choque de gestão”, a turma da despolitização terminal.

Este também pode vir a ser o caso de Obama e de sua “mudança” até agora abstrata.

A comparação soa a disparate, de tão desproporcional, mas da idade de Obama no Brasil temos Aécio Neves, 48.

Nada a ver, claro.

Mas Aécio é típico.

Sim, entre os adeptos da ideologia do “choque de gestão” e/ ou faltos de substância política há o mais idoso Geraldo Alckmin, 56.

Mas há Gilberto Kassab, Eduardo Paes e variantes mais tropicais, digamos, como Sérgio Cabral, 45.

O grosso da geração de 45-55 anos preenche o vácuo dos políticos do pós-ditadura com a vacuidade de suas almas políticas e intelectuais.

Mas os representantes autênticos da classe são mesmo Alckmin e Aécio.

Alckmin, a encarnação diáfana do espírito gerencial, foi tão longe na rejeição dos predicados políticos que acabou por rejeitar seu próprio programa gerencialista em 2006.

Aécio emerge vez e outra na cena política nacional só para cutucar Serra.

Não se sabe o que pensa além de “gestão”.

Na semana que passou, criticou Lula e “tudo isso que está aí”.

Como há vasta porcaria no governo Lula, dizer tal coisa é fácil.

Mas Aécio vai se opor, digamos, a mais gastos com Previdência e bolsas?

Vai tocar reformas que Lula abafou, como a trabalhista?

De quem cobrará mais ou menos impostos?

O que fará da educação além de pregar “todos pela qualidade”, essa inanidade?

O que fará com o BC?

Se Aécio e Alckmin, têm mais destaque, não são melhores seus companheiros de geração.

Política?

Ouve-se apenas se fulano será vice, se “espera a fila andar” (a vez de almejar o Planalto), se leva o DEM, se vai com o PMDB, se sai do PSDB etc.

Obama ao menos criou um princípio de esperança, aspiração que no entanto vai tragá-lo se não for satisfeita: é refém do seu jeitão profético.

A nossa classe de 45-55, porém, não promete nada.