Escolas na Febraban Por Maria Inês Dolci, no caderno Vitrene da Folha de São Paulo de sábado HÁ LISTAS boas, listas ruins, listas curiosas ou inócuas.

A lista de Schindler, industrial alemão que salvou milhares de judeus dos campos de extermínio, foi providencial, e o filme que conta sua história é belíssimo.

Listas de elegantes, deselegantes, de invenções esdrúxulas, de lugares que temos de visitar antes de morrer são curiosas ou tolas.

Não fazem mal nem bem.

Livros condenados à fogueira por nazistas ou pela Santa Inquisição foram retrocessos na história da humanidade.

Até hoje, temos vergonha dessas listas.

Também desconfio de listas de devedores, que comprometem a vida de consumidores, sejam eles caloteiros ou, temporariamente, pessoas em dificuldades causadas por doença ou desemprego.

Talvez a pior de todas seja aquela que condena, por tabela, alguém que nada pode fazer para se defender.

Refiro-me ao cadastro negativo elaborado pelas escolas particulares, com o objetivo de impedir devedores de matricular seus filhos em outros estabelecimentos de ensino.

Ocorre que educação e saúde não são produtos similares a sapatos, bolas de futebol ou colchões.

São serviços fundamentais ao desenvolvimento de um indivíduo, responsabilidades do Estado, que permite a atuação suplementar da iniciativa privada.

O que as escolas estão dizendo, por vias transversas, com seu cadastro de devedores, é que crianças e adolescentes cujos pais não pagam mensalidades em dia não têm direito de estudar. É isso, sem interpretações.

Essas mesmas escolas, sistematicamente, comprometem o equilíbrio entre prestação de serviços e pagamentos, reajustando suas mensalidades acima da inflação.

Causa repúdio ver instituições que se denominam “de ensino” agirem como banqueiros, que tomam bens daqueles que não conseguem pagar suas dívidas.

O que será que elas ensinam às nossas crianças?

A usura, o individualismo, o tratamento cruel dos desfavorecidos, a exclusão e a ganância.

Nada mal para um mundo cuja economia faz água, porque os países ricos permitiram que bandoleiros investissem até a comida que a maior parte da população do planeta conhece só de longe.

Imagino que, daqui a pouco, escolas também se tornem bancos, pois estão muito afinadas com eles.

Poderiam solicitar sua filiação à Febraban, a federação dos bancos.

A propósito, hoje, já vendem “seguros” com a matrícula.

Os argumentos dos donos de instituições de ensino fundamental e médio são risíveis.

A inadimplência é muito elevada, eles têm que se proteger.

Comecem reduzindo os preços absurdos que cobram, na maioria das vezes, superiores até aos dos cursos superiores. É certo que a escola pública é ruim, em sua esmagadora maioria, e que deveríamos exigir dos governos ensino de qualidade.

Mas a ação das escolas particulares é péssima lição para os futuros líderes do Brasil, que estão em suas dependências, hoje, aprendendo que só o lucro salva.