Por Isaltino Nascimento Vivemos no Brasil em um Estado laico.

E o que significa laicismo? É uma doutrina filosófica que defende a neutralidade do Estado em matéria religiosa, ou seja, a liberdade de consciência, a igualdade entre cidadãos em matéria religiosa, e a origem humana e democraticamente estabelecida das leis do Estado.

Contudo, ainda é muito forte a intolerância religiosa no país, tendo como maiores alvos os adeptos das religiões de matriz africana.

E muito desse preconceito sobrevive em função do desconhecimento, já que tais manifestações são uma rica herança deixada pelos nossos ancestrais negros, trazidos de suas terras para cá como escravos.

Tornar conhecido esse mundo das diferentes religiões de matriz africana é uma das maiores dívidas do Estado brasileiro com o povo negro.

Pois a informação, todos sabemos, é peça-chave para extirpar idéias preconceituosas.

Neste caso, se torna ainda mais significativa pela riqueza sócio-cultural, lingüística e simbólica contida nos candomblés das nações Keto, Jeje, Angola e Efã, o Omolocô, o Terecô, vertentes da Umbanda, entre outras.

Felizmente, por influência do movimento negro muitas pessoas já não têm mais vergonha de usar suas contas no pescoço e andam de cabeça erguida.

Aqui em Pernambuco, a luta pela desconstrução do racismo e da intolerância religiosa também está se fortalecendo.

E hoje ganhará mais visibilidade, quando será realizada a II Caminhada dos Terreiros de Matriz Africanas de Pernambuco, a partir das 14h, com saída no Marco Zero do Recife.

A caminhada, que terá como ponto final a Praça do Carmo, visa garantir mais espaço à diversidade de crenças, num país que ainda não assumiu o quanto é plural e diverso.

E abre o ciclo de manifestações previstas para este mês de novembro, quando celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra.

Estou junto com os meus pares nesta caminhada, que é longa e árdua.

Afinal, lutamos contra séculos de perseguição e hostilidade.

Que resultaram não apenas em intolerância religiosa, mas em racismo, que significa marginalização e falta de oportunidade para os negros.

Realidade bem conhecida de grande parte da população afro-descendente no Brasil.

Insisto que dar visibilidade ao conhecimento dos fundamentos religiosos como códigos sócio-culturais e parte das referências identitárias dos afro-descendentes, ajuda a compreender que não há nem um absurdo nas religiões de matriz africana.

O absurdo está no preconceito, na intolerância e na indiferença.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.