Por Sérgio Montenegro Filho A cúpula petista anda satisfeita com o desempenho dos seus candidatos a prefeito nas eleições deste ano.
E tem motivos para isso.
Sobretudo se levarmos em conta que nas eleições municipais de 2000, quando Lula ainda não havia chegado ao poder, o partido fez apenas 187 representantes.
Em 2004 - já com a Presidência da República, mas ainda às vésperas do primeiro escândalo, o do mensalão, detonado um ano depois - o PT elegeu 411 prefeitos.
Este ano, a legenda chegou à inédita marca de 556 governantes municipais.
O triplo do resultado pífio de oito anos atrás.
Para quem não é dirigente ou filiado ao PT, é possível uma reflexão desapaixonada sobre os resultados.
Numa análise superficial, qualquer um pode concluir o óbvio: com o poder nas mãos, é sempre mais fácil eleger seus aliados.
Nem sempre. É bom ter o poder, mas é preciso saber utilizá-lo de forma adequada.
Melhor dizendo: não adianta estar no poder se não houver uma estratégia para dele extrair dividendos.
A receita é do mais sábio conselheiro político de que se tem notícia: Nicolau Maquiavel.
O que isso quer dizer, trocando em miúdos?
Antes de mais nada, é preciso saber usar a máquina administrativa sem deixar portas abertas às restrições impostas pela lei.
Melhor que isso, no entanto, é projetar a longo prazo.
Por exemplo, conceber um projeto assistencial que atinja em cheio as classes menos favorecidas, ampliando a popularidade do governo e do partido que o comanda, deixando o povo satisfeito e sempre consciente de quem é seu “provedor”.
Eis a fórmula mágica: chama-se Bolsa-Família.
Uma ação – de início classificada como emergencial, embora já com longa duração - que distribui um pouco de dinheiro para matar a fome de quem precisa de socorro imediato.
Mesmo que não se traduza em nada mais consistente em termos de educação ou construção da cidadania, ao menos estabelece um lastro eleitoral comprovadamente eficaz.
A afirmação de que o programa carro-chefe do governo Lula se tornou uma grande moeda para os candidatos petistas não é minha.
Está na boca dos mais respeitados analistas políticos do País.
Mas apenas dos que não têm ligações estreitas com o PT.
E sobre os quais recai uma rebordosa em larga escala.
Líderes petistas se apressam em justificar o sucesso do partido nas urnas, negando com absoluta veemência a relação Bolsa-Família x sucesso eleitoral, e castigam o lombo de quem ousar afirmar o contrário.
Talvez o que falte a esses bastiões petistas seja um mapa eleitoral.
Com ele, é possível olhar detalhadamente as regiões pobres e pequenas cidades onde o partido foi mais bem-sucedido, e comparar com o número de famílias atendidas pelo projeto.
Matemática pura e simples.
Mas, façamos justiça.
Nem só nos grotões do País o PT se deu bem.
O desempenho do partido em capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes também foi exemplar.
Das 97 atuais, o futuro governo será petista em 27.
Quase um terço do total, sendo De toda forma, vale esmiuçar os números, mais uma vez: dos 556 prefeitos eleitos pelo PT em 2008, 27 vão comandar grandes metrópoles.
Outros 529 governarão cidades menores.
Muitas delas, bem servidas pelo Bolsa-Família.