De Veja A certa altura, em uma comemoração entre amigos no Rio de Janeiro, em maio de 2004, pediram ao americano Larry Rohter que cantasse.

O então correspondente do The New York Times no Brasil levantou-se e entoou – com voz desafinada, segundo o relato – Apesar de Você, célebre canção de protesto disfarçado contra a ditadura militar. “Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?”, diz um dos versos.

Um dos presentes observou que Chico Buarque, autor da música, era partidário de Luiz Inácio Lula da Silva.

Rohter apreciou a ironia: na sua interpretação improvisada, a letra voltava-se exatamente contra o governo Lula, que tentara expulsá-lo do país.

O motivo dessa tentativa de intimidação – talvez o episódio mais vergonhoso das complicadas relações da administração petista com a imprensa livre – chega a ser trivial: uma reportagem sobre o notório gosto de Lula pelas bebidas alcoólicas.

O caso é narrado em detalhes por Rohter em Deu no New York Times (tradução de Otacílio Nunes, Daniel Estill, Saulo Adriano e Antonio Machado; Objetiva; 416 páginas; 39,90 reais), que chega nesta semana às livrarias brasileiras e do qual VEJA antecipa alguns trechos, com exclusividade, ao longo das próximas páginas.

Seu livro traz a visão crítica que se espera de um bom observador estrangeiro – as ilusões ufanistas e os vícios nacionais (a corrupção em particular) estão rigorosamente documentados.

Mas é também uma obra muito generosa com o Brasil.

A própria interpretação de Rohter para a tentativa de expulsá-lo em 2004 é, afinal, positiva. “O Judiciário agiu de maneira louvável.

O pleno funcionamento das instituições brasileiras foi o grande destaque do episódio”, disse ele, por telefone, de sua casa em Nova York, a VEJA.

Concorde-se ou discorde-se dele, Larry Rohter é um repórter inquieto, um representante da melhor tradição americana da liberdade de imprensa. É bom que o galo cante sem precisar da autorização do mandante da ocasião.

Leia a íntegra aqui.

Veja o trecho Lula e eu