Se depender do senador Gerson Camata (PMDB-ES), e de um certo estudo que ele virá a sugerir, a obrigatoriedade do uso de terno e gravata nas dependências do Congresso está com os dias contados.
O parlamentar capixaba quer trazer ao Parlamento a experiência da Organização das Nações Unidas (ONU), que, na sua sede em Nova York, aboliu a obrigatoriedade do traje para manter aparelhos de ar condicionado funcionando em temperaturas menos frias – e, conseqüentemente, economizar energia elétrica e reduzir a emissão de poluentes como gás carbônico (CO²). “Eles [os funcionários da ONU] fizeram uma experiência de um mês por lá.
Aumentaram a temperatura dos aparelhos de ar condicionado de 19 graus para 24 graus”, disse Camata ao Congresso em Foco, informando que espera o resultado desse estudo da entidade para apresentá-lo à Mesa Diretora do Senado. “Isso economiza muita energia elétrica, e ainda diminui a emissão de poluentes”, completou o senador, dizendo que a experiência da ONU revelou uma redução de 300 metros cúbicos diários na emissão de CO².
Camata adiantou que, com base nos dados que receberá formalmente da ONU, vai sugerir à Mesa um estudo sobre quanto Câmara e Senado economizariam caso fossem aumentadas as temperaturas dos aparelhos de ar condicionado em 5 graus, durante em um mês. “Você pode ir lá [no Congresso] agora que está tudo ligado”, desafiou, imaginando o desperdício de energia elétrica. “Vai economizar meia Itaipu”, ironizou, referindo-se à maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia.
A despeito das implicações ecológicas e mesmo às referentes ao bem-estar masculino, já há quem estranhe a idéia de Gerson Camata. “[O uso de terno e gravata] é uma convenção cultural, uma lei não escrita”, disse a senadora Marisa Serrano, que costuma freqüentar elegantemente as dependências do Congresso – o mesmo que não consegue imaginar informalmente.
Ela acha que a idéia não deve ter continuidade. “É estranho a gente ter parlamentares sem terno e gravata.” Já o senador Tião Viana (PT-AC) acho um meio termo para a questão.
Viana acha que a tradição deve ser mantida em sessões plenárias e reuniões especiais, mas que nas atividades das comissões temáticas e em outros setores do Senado o despojo pode ser admitido.
Deserto Na última terça-feira (28), Brasília registrou seu recorde historico de calor, quando a temperatura máxima foi de 35,8º.
Apenas na década de 60 o calor foi tão acentuado, mais precisamente em outubro de 1963, quando os termômetros marcaram 34,4º, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.
Aliada à baixa humidade do ar da capital federal – que atinge pontos críticos nesta época do ano –, a sensação de calor que o brasiliense enfrenta no dia-a-dia reforça a pertinência da proposição de Camata. “O paletó e a gravata é um troço que vem da Europa.
Não são eles [os países estrangeiros] que vão dizer como devemos nos vestir.
O Brasil é um país tropical”, provocou o senador.
Do Congresso em Foco