Por Gustavo Krause Uma coisa é surfar; outra, bem diferente, é governar.

Surfar é deslizar na crista da onda sobre uma prancha, precariamente equilibrado.

No auge do prazer, o surfista imagina que a onda não quebra.

Ainda assim, o bom surfista presta atenção no ritmo da maré e na direção dos ventos.

Já governar, segundo a raiz grega, é pilotar, conduzir, segurar e manejar o leme de uma embarcação.

A favor ou contra a maré.

Até agora, Lula surfou.

Montado na prancha, ou melhor, no palanque, deslizou nas ondas da popularidade encrespadas pelos bons ventos e pela maré montante.

Quanto a Governar…bom, governar é com a Dilma e mais três dezenas de ministros batendo cabeça.

Pra que leme?!

O fôlego do comunicador resolve tudo.

Eu sou o cão chupando manga.

O céu é comigo; o inferno, com os outros.

Falei tá falado.

Com saliva e jeito, se enrola qualquer sujeito.

Mensalão é invenção. É caixa-dois.

Atire a primeira moeda, aquele que não pecou.

Dossiê e dólar na cueca são trelas dos aloprados.

Este negócio de corrupção chegou com Cabral. É coisa antiga, praticada “pelazelites”.

Comigo, não tem boquinha: os arapongas abelhudam a vida do cidadão e botam a boca no trombone.

Dei e dou cheque em branco aos companheiros indiciados pelo STF.

Sou blindado, abençoado; serei canonizado.

Verdade, Presidente, mais do que democracia: o Brasil é uma cleptocracia.

Com a corda toda, o “comunicador” grita para a galera embevecida e bestializada: vocês querem bacalhau?

Bacalhau, insosso ou salgado?

Tempera no pré-sal.

Bacalhau, salmão e caviar para turma “estribada”, graúda; cesta de crédito (e tome consignado!) para a farra do consumo com ressaca a perder de vista e o sono; cestas básicas e bolsas para a raia miúda que morre no tiroteio da violência e na indigência dos hospitais públicos.

Crise, que crise?

Pergunta ao Bush.

Não sou “mané”, gringo.

Deus é brasileiro.

Aqui, na terra da promissão, vai continuar jorrando mel e chovendo maná.

Aqui é Meireles torando e Mantega torrando.

Mentira, Presidente, a crise é braba.

A culpa?

A culpa é dos neoliberais.

Dos fundamentalistas do mercado.

Rangem dentes, fazendo coro, os órfãos do socialismo real que quebrou meio mundo.

Ora, qualquer estudante de economia, razoavelmente informado, está cansado de saber que, entre a “bolha da tulipa”, em 1637, e o pipoco dos derivativos “sub-prime” do mercado imobiliário americano, a economia mundial oscilou entre picos de eufórica prosperidade e os vales de lágrimas da depressão.

Remotos ou recentes, a história registra ciclos econômicos para todos os gostos e todos os tamanhos.

Nikolai Kondratiev, economista soviético de inspiração marxista, foi o pioneiro dos estudos dos ciclos.

Curiosamente, caiu em desgraça porque não atestava cabalmente o colapso do sistema capitalista como preconizava a fé marxista.

Noutra linhagem, a do positivismo lógico, Schumpeter deu grande contribuição para o entendimento dos ciclos (a despeito visão crítica de Kuznets, Nobel de economia de 1971, sobre a teoria schumpeteriana), atribuindo às inovações a força de operar o que chamou de “destruição criativa”.

E dentro do quadro das referências teóricas, o excêntrico, enrustido e genial Lord Keynes ofereceu ao mundo a solução clássica para enfrentar o “espírito animal” dos empresários, responsável pelos ciclos e suas perversas conseqüências: o papel chave do poder político do Estado (também mencionado nas formulações dos seus antecessores).

Na prática, o papel do Estado foi fundamental na recuperação da crise de 29 e assim tem sido, até hoje, na estabilização das flutuações cíclicas; na teoria, ficou difícil encontrar um só economista que não seja, mais ou menos, Keynesiano.

Cuidado, Presidente, aí mora o perigo.

Em nome das idéias do Lord que defendia a intervenção temporária e corretiva do Estado, vão entregar ao senhor, na bandeja da estatização, a cabeça do contribuinte.

Aliás, já entregaram. É o que prescreve a receita misteriosa da MP 443, já apelidada de MP Pro Tudo, urdida nas sombras do poder invisível, que: (a) esnobou o Congresso (o Pro Tudo estava pronto enquanto seus autores, Mantega e Meireles, distraíam os parlamentares com conversa (a)fiada); (b) deu todo poder às instituições financeiras estatais – BB e CAIXA – para usar e abusar do nosso dinheirinho em “tenebrosas transações”.

A propósito, a MP já pariu um filhote para salvar quem apostou na roleta viciada do cassino, a Caixa Par, cuja eufonia lembra encaçapar, ou seja, meter na caçapa do tesouro os “bola sete” do estranho jogo que vem por aí.