Por Joana Rozowykwiat, de Política/JC Presidente estadual do PTB, o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB) avalia que, diferente do que aconteceu com o prefeito João Paulo (PT) – que quando assumiu a PCR já tinha uma trajetória política firmada – será o desempenho do prefeito eleito João da Costa, à frente do Executivo, que o “legitimará enquanto ator político”.

O petebista avisa que sua legenda não está pleiteando espaços no futuro governo.

Mas alerta João da Costa para o desafio de manter a Frente do Recife unida, “sobretudo na perspectiva de 2010”.

Sem querer confirmar seu nome para a disputa ao Senado, ele afirma ainda, nesta entrevista, que projetos os pessoais devem ser subordinados aos interesses mais amplos da aliança.

JORNAL DO COMMERCIO - Como o PTB saiu dessa eleição?

ARMANDO MONTEIRO NETO - O PTB teve grande crescimento orgânico.

Elegeu 14 prefeitos em 2004 e, agora, elegeu 31.

Dobrou o número de vereadores.

Em 2004, elegemos 130.

Nessa eleição foram 238.

Somos a segunda legenda mais votada para vereador.

E um dado importante: fomos o terceiro partido mais votado para prefeito em Pernambuco.

Os dados são os seguintes: o PSB teve 728 mil votos.

O PT foi o segundo, com 640 mil.

Mas é bom lembrar que daí, 430 mil votos foram os de João da Costa no Recife.

E o terceiro mais votado foi o PTB, com 592 mil votos na legenda.

Portanto, o crescimento do partido é inquestionável.

Mas o que é importante destacar não é o crescimento isolado do PTB, mas do conjunto de forças no qual o PTB está inserido, ou seja, que dá apoio ao governador Eduardo Campos (PSB).

JC - Esse crescimento fortalece um projeto majoritário do senhor em 2010?

ARMANDO - Eu não sei se isso pode ser dito assim.

O partido hoje tem o seu espaço, mas eu já declarei, e quero declarar de novo, que o PTB vai trabalhar de maneira solidária com o governador Eduardo Campos, com esse conjunto de forças, para que nós possamos fazer em 2010 a composição mais forte possível para o conjunto.

E qualquer projeto pessoal tem que estar subordinado aos interesses mais amplos dessa aliança.

JC – Mas, hoje, as candidaturas do senhor e do prefeito João Paulo são apontadas como as mais “naturais” ao Senado.

ARMANDO - Podem haver setores na classe política que assim entendam.

Mas a eleição é em 2010 e volto a dizer que quem vai coordenar esse processo é o governador, e o PTB quer a composição mais forte possível.

Com ou sem uma candidatura própria do partido.

JC - O senhor acredita que João Paulo sai fortalecido dessa eleição para 2010?

ARMANDO - Claro que ele se fortalece em função do resultado que colheu aqui no Recife.

Eu, particularmente, entendo que ele se credencia para compor essa chapa que será liderada pelo governador Eduardo Campos.

Ele está credenciado.

JC - Então o senhor descarta a possibilidade que se especulou de ele vir a disputar o governo?

ARMANDO - Olhe, eu não posso falar por ninguém.

Posso falar por mim.

Acho que, nesse conjunto onde estamos inseridos, temos que ter a compreensão de que temos um projeto convergente, que deve buscar a continuidade de algo que está dando certo, que é o governo Eduardo Campos.

Acho que ele tem legitimamente o direito de postular a sua reeleição.

E se estamos integrados a esse governo que vem dando certo, porque não garantir a continuidade desse trabalho?

A continuidade dessa obra e dessa aliança deve se sobrepor a qualquer projeto individual.

JC - Qual a sua expectativa em relação ao governo de João da Costa?

ARMANDO - Ele tem dito, pelo conhecimento e experiência de dois governos, que vai ampliar programas e consolidar ações que já foram realizadas nesses dois períodos, e ampliar também as conquistas, reforçar ações em algumas áreas. É evidente que (deve haver) uma maior presença da prefeitura nessa área de segurança, um reforço na qualidade de ensino, na questão habitacional.

Ele vai consolidar avanços e fazer ações que signifiquem a busca de resultados mais efetivos em outra áreas.

Em suma, ele terá também a sua própria marca, que seria, em certa medida, a da continuidade e, não, a do continuísmo.

JC - O senhor avalia que João da Costa, que teve sua imagem fortemente atrelada à do prefeito João Paulo na campanha, precisará se desvincular um pouco dele?

ARMANDO- Ele tem, indiscutivelmente, uma vinculação muito forte com João Paulo.

João da Costa a todo o momento reconhece e proclama essa vinculação.

Agora é evidente que o governo será de João da Costa e todos têm essa compreensão, inclusive o prefeito João Paulo.

Quem vai governar é João da Costa.

Ele terá que imprimir sua própria marca.

E eu tenho certeza que fará isso.

JC - O que pode ser essa marca própria, esse diferencial?

ARMANDO - Os Joãos são diferentes nas trajetórias, nas características, nos perfis.

João (Paulo) é uma liderança popular, extraída do movimento social, um sindicalista, tem toda uma trajetória.

E João (da Costa), a sua posição política vai se legitimar em função do seu desempenho à frente da prefeitura.

Ou seja, da fidelidade a certos compromissos que garantam essa marca social, a marca do compromisso com a maioria do Recife e do êxito de sua administração em todas as áreas.

Eu acho que a legitimação dele, enquanto ator político, vai depender muito desse desempenho na prefeitura.

Claro que João Paulo teve um bom desempenho na gestão que fortaleceu sua liderança, mas ele já tinha uma longa militância nos movimentos sociais, que já dava a ele uma posição de legitimação, antes mesmo da sua chegada à prefeitura.

Essa é a diferença.

JC - O PTB hoje participa da prefeitura, comandando as secretarias de Habitação e Administração.

Qual a sua expectativa em relação a esses espaços e à composição do governo João da Costa?

ARMANDO - O PTB não está reivindicando nenhum espaço.

O PTB deu uma contribuição através dessas duas secretarias, com dois quadros qualificados.

Mas agora não temos nenhuma reivindicação.

Se houver realmente essa disposição de realizar um governo pluripartidário e se o PTB for lembrado, muito bem.

Mas volto a dizer: nós não estamos reivindicando nenhum espaço.

JC - A vitória de João da Costa é mais do que tudo uma vitória do prefeito João Paulo?

ARMANDO - É uma vitória de João Paulo também, obviamente.

A gestão dele foi muito bem avaliada pelo recifense e ele é uma grande liderança popular.

Então não há dúvida de que ele teve um peso expressivo.

Mas é bom lembrar que essa vitória não é apenas a vitória do prefeito. É a vitória desse conjunto de forças e a vitória do governador Eduardo Campos (PSB) que contribuiu, eu diria, de forma muito efetiva para esse resultado.

JC - Qual será o principal desafio de João da Costa?

ARMANDO - Atender às expectativas do povo do Recife no sentido de que ele possa realizar mais do que foi feito no último período administrativo. É o desafio de fazer mais.

Mas eu sou otimista.

Acho que com a experiência que ele acumulou, vai fazer isso, construindo parcerias, contando com a ajuda do governo estadual.

JC – E do ponto de vista político?

ARMANDO - O desafio político é atuar para consolidar e fortalecer esse conjunto de forças onde ele se insere.

Fortalecer a unidade do PT e o conjunto dessa aliança onde estamos inseridos, sobretudo na perspectiva de 2010.