Do Blog do Josias Chama-se Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) o relator da medida provisória 442, que permite ao BC socorrer bancos com empréstimos em reais e em dólar.
Loures corre contra o tempo.
A votação está marcada para a próxima terça (28).
Nesta sexta (24), o deputado se reuniu com uma equipe de técnicos do BC.
Foi informado de que, por ora, nenhum banco foi acudido pelo BC.
Soube mais: quando o socorro for acionado, o contribuinte brasileiro não será informado do nome dos bancos. “Se você revela o nome, quebra o banco.
Seria melhor intervir direto”, diz Loures.
Vai abaixo a entrevista concedida pelo deputado ao blog: - Já decidiu como será o relatório?
Pretendo dispensar à matéria um tratamento técnico, sem partidarismos.
O tema não comporta disputas entre situação e oposição.
Assegurar a liquidez da econonomia não é função desse ou daquele governo. É responsabilidade de Estado. - O que foi fazer no Banco Central?
Estive na sede do Banco Central em São Paulo.
Participei de uma vídeoconferência com uma equipe do banco.
Cinco ou seis estavam em Brasília.
Dois aqui mesmo, em São Paulo.
Começou às 3h45.
Terminou às 5h30. - Qual foi o objetivodo encontro?
Fui saber o que tinha motivado a edição da medida provisória 442.
Saí convencido de que prevaleceu o princípio da precaução. É uma ferramenta adicional para enfrentar uma crise sem precedentes. - Algum banco já recorreu ao redesconto?
A equipe do Banco Central me disse que não.
E quando houver alguma operação, não vamos ficar sabendo o nome da instituição, em função do sigilo bancário. - Não acha que falta de transparência?
Discordo da crítica.
Colegas levantaram esse tema comigo.
Também fiz esse questionamento na reunião do BC. - A que conclusões chegou?
Saí convencido de que a MP veio justamente para dar mais segurança ao BC nas operações de redesconto.
Qual limite da transparência nessa matéria é o da responsabilidade constitucional, que garante o sigilo da instituição que está recorrendo ao redesconto.
Se você revela o nome, quebra o banco.
Seria melhor intervir direto.
Eu me convenci do argumento deles.
Faltava a formatação da ferramenta para lidar com uma crise de grande escala.
O texto da MP deu conforto ao BC para agir. - Disseram quantos são os bancos que podem recorrer ao socorro?
Não.
Nem eu dei a eles a oportunidade de criticar as emendas nem adentrei em temas que só dizem respeito ao Banco Central. - Os problemas são apenas de liquidez ou há também insolvência?
Esse ponto ficou bem claro.
Nesse momento, temos crise de liquidez, não de solvência.
O BC admite que a crise é muito feia.
Está trabalhando na sua missão: garantir a integridade do sistema financerio nacional. - Falaram sobre a possibilidade de rejeição da medida provisória?
Eu perguntei: e se a gente perder essa votação.
E eles: se perder, a gente vai ficar com uma condição menor de enfrentar a crise.
Senti que estão apreensivos, mas contando com a aprovação da MP. - E quanto à qualidade das carteiras de crédito que os bancos darão como garantia dos empréstimos do BC?
Disseram que têm como avaliar a qualidade das carteiras.
Mas essa avaliação está sujeita à volatilidade dos indicadores.
Na ótica deles o preocurante em relação às carteiras de crédito é que, se não puderem tratar desse assunto com serenidade e alguma celeridade, diante da mutação que a profundidade e o prolongamento da crise provoca nos indicadores, preferem nem tratar. - O BC tem pressa, portanto.
Eles disseram que os próprios parâmetros para a compreensão do que é uma carteira boa são, hoje, diferentes do que eram ontem.
Suponha que uma empresa tenha apresentado ao banco, na hora de contrair um empréstimo, um balanço com fechamento em outubro.
Até que ponto se pode confiar na integridade desse balanço sem saber quais foram os efeitos da crise na empresa?
A gente chega à seguinte situação: se você não fizer nada, deixar a naureza trabalhar, quando chegar no final do processo tudo já virou pó. É como um médico diante de um paciente em estado grave.
Não sabe se mexe primeiro no coração ou se cuida antes da irrigação do cérebro. - Já decidiu que emendas vai incorporar à medida provisória?
Ainda não.
São 74 emendas.
Vou analisar o conteúdo no final de semana.
Se necessário, conversarei com os autores. É preciso definir critérios.
Por exemplo: várias emendas tratam de questões agrícolas.
Se o critério restringir a MP aos temas que digam respeito ao BC, essas emendas ficariam de fora.
Crédito agrícola é assunto do ministério da Fazenda. - Acha razoável incluir os bens dos gestores dos bancos no rol de garantias exigidas pelo BC?
Não lembro se há emendas tratando disso.
Mas, para que não sejamos demagógicos, é preciso lembrar que a declaração de rendimentos desse pessoal do mercado financeiro costuma ter uma linha.
O patrimônio não está na declaração pessoal.
Então, isso pode parecer bom, mas, na prática, é jogar para a torcida. -Planeja incluir a punição aos responsáveis por gestão temerária?
Alguns deputados falaram comigo.
Acham que deveríamos marcar posição nessa área. É uma boa idéia.
Mas não formei opinião sobre a pertinência do tema com essa MP. - Sua intenção é a de aproveitar poucas emendas?
Não dá pra dizer ainda.
Preciso do voto de todos aqueles que emendaram a MP, atendidos ou não.
Faz parte do meu papel conciliar os interesses.
Essa MP 442 é a ante-sala da 443 [que autoriza BB e CEF a adquirir participação em bancos privados].
Quero construir um ambiente que favoreça a aprovação das duas medidas. - Quando fecha o relatório?
Vou trabalhar no final de semana.
Na segunda-feira, tenho encontro com o pessoal do ministério da Fazenda.
Entregarei o relatório, antes da votação em plenário, na reunião dos líderes com o presidente Arlindo Chinaglia, na terça-feira.
Tenho pouco tempo.
Mas o mercado também não dispõe de tempo.
Essa é a primeira medida provisória da fase pós-crise. É urgente e relevante, como manda a Constituição.
Sua aprovação sinaliza o alinhamento do Congresso com dois pontos fundamentias: o reconhecimento de que há uma crise grave.
E a disposição de encará-la de frente.
Temos que nos preocupar com o sistema financeiro como um todo, sem nos desviar com eventuais pedrinhas que surjam no caminho.
Se tivermos a quebra de um banquinho que seja, em Minas, no Rio Grande do Sul ou no Pará, isso será amplificado.
A crise de confiança já está instalada.
Evoluiremos para o pânico, que pode levar as pessoas a confundirem o banquinho de não sei da onde com o Bradesco.
Isso seria péssimo.