A matemática da educação no Brasil: a equação onde a escola pública é o resto Por José Luis Simões A escola no Brasil hodierno tem duas caras.

Numa delas temos as elites que estudam nos melhores e mais caros colégios das grandes cidades.

Nessas instituições de ensino renomadas e limpas, bem organizadas e com professores bem pagos temos estudantes que provavelmente se tornarão doutores concursados em cobiçados cargos públicos ou respeitáveis gerentes de empresas.

Na periferia, temos as escolas públicas onde estudam os filhos dos párias, ou seja, o restante dos cidadãos, a maioria, o povão.

O garoto que freqüenta o semáforo, que vigia nossos automóveis, o filho do flanelinha, da faxineira ou do porteiro do prédio.

Embora seja fenômeno social e econômico, podemos dizer que é praticamente uma relação matemática.

Investimento em Educação + capital cultural x escola de qualidade = Bom Emprego .

Emprego x boa remuneração + reconhecimento social = Riqueza.

Pobreza + Escola Pública = subemprego.

Subemprego – qualificação + preconceito = Desemprego.

Duas escolas, dois países, um único território geográfico.

Na escola das elites, os melhores professores, as melhores condições estruturais etc.

A fluência em duas ou três línguas é lugar-comum, a tecnologia de ponta encontra-se na biblioteca dessas escolas, o acesso a jornais e revistas, a internet como ferramenta de pesquisa, enfim, as elites organizam e se qualificam para perpetuação de sua espécie.

Não se trata de uma “ditadura das elites” ou de escalada do capitalismo global.

A questão é bem mais simples: Lei de Darwin, evolução das espécies.

Os “nobres” do século XXI não se sentirão confortáveis se seus rebentos não ascenderem à “nobreza” de uma vida previsível, com boa renda, degustando vinhos, planejando viagens internacionais, consumindo bens e serviços, deleitando-se nos melhores restaurantes e contribuindo com gorjetas aos garçons.

Gorjetas, conceito sociológico de fulcro na sociedade contemporânea, na sociedade que inala e transpira desigualdade, pobreza e marginalidade.

A escola pública no Brasil é uma gorjeta para os pobres.

A gorjeta que pode fazer a diferença, oferecendo oportunidades numa via esburacada para a ascensão social. É preciso reconhecer que, mesmo que precário, um caminho é sempre melhor do que sua inexistência.

Na escola pública do Estado de Pernambuco, temos o vergonhoso IDEB (Indice de Desenvolvimento da Educação Básica), os baixos salários para os professores, as Gerências Regionais de Ensino invadidas por diretores de escolas quase em prantos na defesa de seus pleitos por recursos.

Defesas que são, por vezes, inaudíveis.

Causas e sintomas do malogro da educação pública se encontram e se complementam: professores desestimulados e mal remunerados, alunos carentes (em vários sentidos) e de baixo capital cultural, prédios e edificações apropriadas ao homo erectus, gestores despreparados (temos sorte quando não são corruptos).

Infelizmente, essa linha de argumentos não se trata de mera retórica de um especialista em Educação. É a realidade nua e crua da Educação no Brasil: boa escola para a minoria, e, sob a mesma pátria, depósito de criança e adolescentes para os pobres.

José Luis Simões, é doutor em Educação e docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco.