Deu na Folha de Saõ Paulo Na Virgínia, um folheto que começou a ser enviado na última semana pelo Partido Republicano traz uma foto que é um close nos olhos de um homem e a frase: “Os EUA têm de olhar o mal nos olhos e não piscar jamais”.

A pessoa na foto é negra.

Na Califórnia, um grupo do partido distribui notas falsas de dez dólares com a foto do democrata Barack Obama adornada por uma melancia, costelas de porco e frango frito, alimentos que o estereótipo racista associa aos negros nos EUA.

Na quinta, em Ohio, Samuel Wurzelbacher, que ganhou 15 minutos de fama como Joe, o encanador, disse que Obama “sapateava como Sammy Davis Jr.” -a gíria “sapatear”, em inglês, quer dizer evitar ir direto ao assunto.

A comparação com o cantor negro (1925-90) levou a blogosfera progressista a passar a acusá-lo de racista.

Por mais que ambas as campanhas tenham evitado o assunto e, se confrontadas, diminuído seu peso, o racismo permeia esta corrida presidencial americana.

Qual o tamanho dele, o quanto mudou nos últimos anos nos EUA e que peso terá no dia 4 de novembro são perguntas que pesquisadores e acadêmicos tentam responder conforme o pleito se aproxima. “O racismo pode ter o peso nesse ciclo eleitoral presidencial que o aborto teve em 2000 e 2004”, disse à Folha David Epstein, professor de ciência política da Universidade Columbia, de Nova York. “Deve mobilizar grupos de pessoas que normalmente não votariam [o voto nos EUA não é obrigatório] a ir às urnas votar contra Barack Obama.” No passado, plebiscitos sobre o aborto levaram grupos conservadores a sair de casa e votar, o que ajudou George W.

Bush.

A diferença, crê o acadêmico, autor de dois estudos sobre racismo e eleições, é que desta vez os grupos não terão força para mudar o resultado.

Não há consenso sobre quão marginais seriam.

Fala-se do “efeito Bradley” -cálculo feito a partir de um caso real por cientistas políticos como Paul Sniderman, de Stanford, segundo o qual negros que disputam cargos executivos nos EUA devem ter entre cinco a sete pontos descontados das pesquisas de intenção de voto.

Esse seria o total de “racistas enrustidos”, que declaram um voto ao pesquisador e agem de outra maneira nas urnas.

Em 1982, o democrata negro Tom Bradley liderava com folga as pesquisas para o governo da Califórnia, que disputava com o republicano branco George Deukmejian.

No dia da votação, perdeu.

Obama lidera os levantamentos nacionais hoje com média de 6,9 pontos.

Os tempos mudaram, defende Epstein e outros.

Para eles, o fato de Obama se vender como um candidato “pós-racial” e ter uma grande base de eleitores jovens para quem raça não é fator determinante faz com que o “efeito Bradley” tire apenas entre 1 e 2 pontos das pesquisas.

Sniderman é cético: “Ainda há muitos racistas neste país”.

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