Sempre vencendo dificuldades, José Paulo Cavalcanti viajou mais de 10 vezes a Lisboa e Paris, para colher dados e checar, sempre investigando, o que estaria por trás dos fatos narrados pelo poeta.

Conversou com contemporâneos do poeta, com parentes distantes, com gente que se lembrava de alguma coisa contada sobre Pessoa.

Até com a sobrinha querida, já octogenária, que o recebeu para responder 60 perguntas em apenas dez minutos de conversa, mas que, como por encanto da visita, resultou num revelador convívio de mais de seis horas de descobertas.

Nem sempre foi trabalho fácil.

Assim se deu, por exemplo, “quando tentei encontrar certa farmácia A.

Caeiro – “cujo cabeçalho” disse Pessoa, em carta ao amigo Côrtes-Rodrigues (04-10-1914), “por acaso” ter visto ao passar de carro na Avenida Almirante Reis.

Até achou graça, porque talvez aquele A fosse de Alberto – mesmo prenome que destina ao heterônimo Caeiro.

Nos vários quilômetros dessa avenida existem dezenas.

Conversei com seus proprietários, um por um.

Sem mais lembranças dela.

Não há registros no Arquivo das Finanças do bairro”. “O Arquivo Histórico da Cidade de Lisboa tem duas fotografias de farmácias antigas da avenida em seus ficheiros – as de número 46 e 78, sem indicação de nomes.

O 46 ainda hoje é farmácia, agora bem moderna, a Confiança; o 78 não existe mais.

O Museu da Farmácia guarda anotação de uma, número 22, com decoração exterior de palmeira em cantaria de pedra.

Conferi no local.

Lá está agora um café, o Palmeira dos Anjos, entre uma loja de fotografias e uma pastelaria, retendo em alto relevo, na parede envelhecida de sua esquina, imagem que lembra símbolo tão comum nas farmácias, de cobra enroscada numa palmeira.

Já admitia não tivesse mesmo existido – algo natural, tratando-se de Pessoa.

Até que, conferindo o Anuário Comercial de Portugal, do ano de 1922, encontrei Antonio Joaquim Caeiro, pharmaceutico, Avenida Almirante Reis 108-D.

Antonio, e não Alberto.

Fim da peregrinação”.