Dignos de São Paulo Por Gustavo Krause e Luiz Otavio Cavalcanti O Brasil tem tradição de integridade.
Não só geográfica, pela competência do barão do Rio Branco.
Mas também política, pelo talento de José Bonifácio.
Essa inteireza não é sequer arranhada por eventuais surtos colonialistas.
Pequenos diante da grandeza das bases fundadoras da Nação.
Sendo esta formada na diversidade social das Regiões que a integram.
Tomemos o exemplo do Sudeste e, nele, São Paulo, sua mais forte expressão.
O processo de sua formação foi construído, em grande parte, de fora para dentro do Estado.
Milhares de imigrantes estrangeiros, japoneses, italianos, alemães, chineses, e braços nordestinos encontraram na terra bandeirante oportunidades transformadas em investimentos, tecnologia e emprego.
A característica do desenvolvimento paulista é a transformação pelo trabalho, na indústria, no agronegócio, no cosmopolitismo.
Agora, olhemos o Nordeste.
O processo de sua construção foi inverso, de dentro para fora.
Foi expressão de uma energia interior, de forças culturais.
Ambíguas, contraditórias.
Antigas, umas.
Modernas, outras.
Todas representativas de um conceito cultural.
Como a Região não estava no eixo dos ciclos de industrialização, buscou afirmação na cultura.
No romance de Jorge Amado, na poesia de João Cabral de Mello Neto, na consciência de Graciliano Ramos, na antropologia de Gilberto Freyre, nas pesquisas de Câmara Cascudo, na pintura de João Câmara, na escultura de Francisco Brennand, na denúncia social de Josué de Castro.
Cada Região na sua.
Curiosa é a absoluta complementaridade entre uma Região, produtora, apolínea, e a outra, intérprete, dionisíaca.
Não há choques, há toques.
Há trocas.
Pernambuco envia os Ermírios de Moraes para em São Paulo semear fábricas.
E recebe executivos para tocar empreendimentos em Suape.
Pernambuco designa os irmãos Mauro e Luis Sales para modelar a imagem de invenções paulistas.
E recebe chefs para internacionalizar a cozinha nordestina.
Com açúcar e com afeto.
Essa compreensão inteira do Brasil é compartilhada por quem vê o País e enxerga sua dimensão.
A diversidade da cultura e da paisagem aproxima, complementa e une; as misérias da política fragmentam e dividem.
Quem enxerga inteiro, coloca o Brasil íntegro, como deve estar, na paisagem e no discurso.
Pois quem o põe fraturado, ao sabor de emoção imediata, não diminui só a ele, senão também a si próprio. É o que terá feito a candidata Martha Suplicy.
Como terá permitido a fresta de sexismo defasado.
Perfeita cilada para uma sexóloga.
São Paulo, para os demais brasileiros, não é uma miragem. É horizonte real.
Com o qual é possível produzir parcerias como a do celo de Antônio Meneses com a sinfônica paulista.
Ou a do teatro de João Falcão com a cena paulistana.
Sem mistério.
Encontro de pura beleza.
Sem arrivismos.
Ou rendições.
São Paulo tem o tamanho de suas criações.
De Mario de Andrade ao memorial da América Latina.
Por isso, seus administradores, sejam oriundos da empresa privada, como Olavo Setubal, ou da vida pública, como Mario Covas, sempre tiveram altura suficiente nas suas tarefas.
Não se apequenaram no discurso nem na ação.
Começaram grandes.
Terminaram maiores.
Do tamanho de São Paulo.
Assim imaginamos a campanha eleitoral para a prefeitura paulistana.
Construtiva como seu povo.
Sem temor que não é próprio dos paulistas.
E sem rancor que não lhes é digno.
Sem procurar com ataques, defeituoso truque que a torne menor.
Uma campanha que pense as grandes vocações da Cidade.
Consagrando suas virtudes e sem agressões imaturas.
Uma campanha digna do ideal ético de 32.
Limpa como as tradições liberais de São Paulo.
PS: Krause, ex-ministro da Fazenda e do Meio-Ambiente, é advogado.
Luiz Otávio, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco, é diretor da Faculdade Santa Maria, no Recife.