Por Edilson Silva Acompanhei atentamente ao primeiro debate entre Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM) na abertura do 2º turno das eleições em São Paulo.
Achei que já tivesse visto ali toda a agonia do PT na disputa eleitoral na maior cidade brasileira, mas não, o pior ainda estava por vir.
Marta e a cúpula petista de sua campanha foram à TV, em seu guia eleitoral, praticar um preconceito medieval contra Kassab, insinuando que este não seria heterossexual.
Segundo a candidata Marta, Kassab teria dois grandes e principais motivos para não ser reeleito prefeito de São Paulo.
O primeiro seria o seu histórico, suas más companhias do passado e o fato de sua filiação partidária, o DEM, ex-PFL.
O segundo seria o fato de Kassab não ser casado e não ter filhos, o que, segundo a nova lógica de Marta, o tiraria da padronagem tradicional e aceitável para o cargo almejado, cargo que, aliás, Kassab ocupa atualmente, pois busca a reeleição.
Se seguir nesta linha, e espero que não siga, pois a maior cidade do país não merece isto, a próxima tática de Marta e seus marqueteiros será mostrar a língua para Kassab publicamente, tamanha a falta de argumentos políticos, que denunciam que o PT em linhas gerais perdeu a força de seu discurso nos grandes centros urbanos.
Senão vejamos.
Marta e o PT acusam Kassab de ter andado com Maluf num passado recente, no entanto Maluf hoje anda de mãos dadas com o PT e faz parte da base aliada de Lula, que Marta diz ser o governo que está mudando o Brasil para melhor.
Ou Maluf mudou, ou existem dois Malufs e não fomos avisados, ou Maluf não mudou e se adaptou bem ao governo Lula.
Suspeito que a terceira alternativa seja a mais próxima da realidade.
Acusam Kassab de ser do DEM, ex-PFL, partido que, segundo Marta e sua cúpula petista, está sendo banido do Brasil.
Mas o PT, nestas eleições municipais, coligou-se com o DEM em mais de 800 municípios.
Eu disse mais de oitocentos municípios.
Ainda segundo Marta, bradando no debate ao vivo da TV Band, o DEM está sendo enterrado no nordeste.
Afirma ela que os coronéis do ex-PFL estão saindo da cena política e que Kassab seria um exemplar em extinção que luta pela sobrevivência em São Paulo.
Esqueceram de avisar a Marta e seus assessores que um sujeito de nome Severino Cavalcanti, do partido de Maluf, anda sendo chamado em Pernambuco de “companheiro” pela alta roda petista, e que até ministro de Lula veio a comício no pequenino município de João Alfredo para prestigiar a campanha do “companheiro” ex-deputado.
Outros coronéis do PFL, como Inocêncio de Oliveira e José Múcio, também não foram enterrados, pelo contrário, só mudaram de sigla e estão mais fortes do que nunca por estas bandas, inclusive com ministérios.
Com relação à vida privada do prefeito e candidato Kassab, que não é da nossa conta, e às insinuações feitas de forma preconceituosa, Marta e o PT sempre se notabilizaram por defender o direito à diversidade neste terreno.
Ou João Paulo em Recife estaria errado ao aprovar lei municipal garantindo pensão a parceiros(as) de servidores(as) públicos(as) homossexuais?
Portanto, os motivos que Marta e os seus levantam para que os paulistanos não votem em Kassab podem ser utilizados, pela sua ótica, para que os paulistanos também não votem nela mesma.
Os paulistanos estariam, na visão de Marta, sem opção.
Marta talvez pudesse explorar o fato de Kassab ser um fanático neoliberal, um político de cultura patrimonialista, defensor desta democracia representativa viciada e sem jeito e da picaretagem tão características nos políticos tradicionais, ou mesmo acusa-lo de ser um político conservador e moralista.
Mas estes defeitos também estão sobrando no PT.
Então, cara Marta, o que sobrou para você foi um conselho conhecido: relaxa e goza. Presidente do PSOL/PE e membro da Direção Executiva Nacional do PSOL